«Quase fizeste dele um ser divino» (Sl 8, 6)

«E o que se poderia dizer e pensar de maior sobre o homem a não ser que o próprio Deus se fez homem?» (homilia de 29/09/2007) Esta bela expressão do Papa Bento XVI vai ao encontro à ideia conciliar (GS 22) de que Jesus Cristo é chave de interpretação do homem e do mundo. Se o homem apresenta uma dupla vocação (GS 3) – a vocação ao sobrenatural e a à fraternidade universal – em Jesus Cristo encontra luz para responder aos anseios profundos da sua natureza. «Quem segue a Cristo, o homem perfeito, faz-se ele mesmo mais homem» (GS 41).

Na teologia cristológica moderna, encontramos nitidamente a conceção da redenção como um ato de humanização mais do que um ato «deificante». O homem que se assemelha a Cristo não se transforma em Deus, mas, pelo contrário, torna-se cada vez mais humano. Nesta teoria, fundamenta-se a relação entre a cristologia e a antropologia e funde-se a realidade que une Deus ao homem.

Karl Rahner, o teólogo responsável pela viragem antropológica em teologia, apresenta a tese de que «a cristologia é o começo e o fim da antropologia». Portanto, a definição do homem acontece a partir da Encarnação. É a cristologia que determina a antropologia pois é Jesus, Novo Adão, que esclarece e ilumina a humanidade.

O homem é criatura amada por Deus, concebido à imagem e semelhança do seu Criador, marcado com o selo da aliança divina que lhe permite comungar com o Transcendente e capacita-o para uma incessante busca da razão de existir. O que de mais profundo o homem anseia e deseja só o encontra em Deus. A impotência humana transporta-o à realidade transcendental, que colmata a sede de infinito que habita o seu coração.

Em Jesus Cristo, na sua natureza humana e divina, o homem encontra a plenitude escatológica e compreende a sua vocação. Por isso, o ser humano ao reconhecer e contemplar Deus aproxima-se cada vez mais da sua humanidade. «Deus fez-se homem para tornar o homem mais humano». A encarnação de Jesus na natureza humana manifesta a perfeição e a plenitude do homem. Na debilidade e na fraqueza, Deus salva todo o género humano.  Com Cristo, a humanidade toma consciência do seu fim último, que é a comunhão com o Deus trinitário.

O caminho da cruz não pode ser entendido como uma destruição do homem, mas sim como forma de aniquilar aquilo que o decompõe – o pecado. No itinerário da cruz, que tem como fim último não a morte, mas sim a ressurreição, o homem descobre a sua possibilidade de aperfeiçoamento.

Jesus Cristo é o homem por excelência. Nele se concretiza o sonho de Deus para a sua criatura. A restauração de toda a Criação dá-se através do Filho, que consigo eleva ao Pai o antigo Adão, integrando-o na comunhão divina. A redenção vem dar a conhecer o caminho que transporta o homem à plenitude da sua existência. Seguir Cristo é tornar-se cada vez mais humano; e ser mais humano é, sem dúvida, participar da vida divina. Se, no consabido dizer de Santo Ireneu, “A glória de Deus é o homem vivo”, podemos perfeitamente afirmar, partindo da ótica cristã, que o homem só se descobre plenamente quando se contempla no rosto sofredor e glorioso de Cristo.

Leonel Vieira

4º Ano

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