A formação dos candidatos ao sacerdócio

Viver no seguimento de Cristo como os apóstolos

42. “Subiu ao monte, chamou para junto de si aqueles que entendeu e eles foram ter com Ele. Estabeleceu doze que estivessem com Ele e também para os enviar a pregar e para que tivessem o poder de expulsar demónios” (Mc 3, 13-15).

“Que estivessem com Ele”: nestas palavras, não é difícil ler o “acompanhamento vocacional” dos apóstolos por parte de Jesus. Depois de os ter chamado e antes de os enviar, melhor, para os poder enviar a pregar, o Senhor pede-lhes um “tempo” de formação, destinado a desenvolver uma relação de comunhão e de amizade profunda Consigo mesmo. A estes, reserva Ele uma catequese mais aprofundada relativamente à do povo (cf. Mt 13, 11) e quer-los testemunhas da Sua silenciosa oração ao Pai (cf. Jo 17, 1-26; Lc 22, 39-45).

Na sua solicitude relativamente às vocações sacerdotais, a Igreja de todos os tempos inspira-se no exemplo de Cristo. Foram, e em boa parte são ainda agora, muito diversas as formas concretas, segundo as quais a Igreja se foi empenhando na pastoral vocacional, destinada não só a discernir, mas também a “acompanhar” as vocações ao sacerdócio. Mas o espírito, que as deve animar e sustentar, permanece idêntico: o de conduzir ao sacerdócio só aqueles que foram chamados e levá-los adequadamente formados, ou seja, com uma consciente e livre resposta de adesão e envolvimento de toda a sua pessoa com Jesus Cristo que chama à intimidade de vida com Ele e à partilha da sua missão de salvação. Neste sentido, o “seminário” nas suas diversificadas formas, e de modo análogo a “casa de formação” dos sacerdotes religiosos, antes de ser um lugar, um espaço material, representa um espaço espiritual, um itinerário de vida, uma atmosfera que favorece e assegura um processo formativo, de modo que aquele que é chamado por Deus ao sacerdócio possa tornar-se, pelo sacramento da Ordem, uma imagem viva de Cristo Cabeça e Pastor da Igreja. Na sua Mensagem final, os Padres sinodais intuíram de modo imediato e profundo o significado original e qualificante da formação dos candidatos ao sacerdócio, ao afirmarem que “viver em seminário, escola do Evangelho, significa viver o seguimento de Cristo como os apóstolos, significa deixar-se iniciar por Ele no serviço do Pai e dos homens, sob a orientação do Espírito Santo; significa deixar-se configurar a Cristo Bom Pastor, para um melhor serviço sacerdotal na Igreja e no mundo. Formar-se para o sacerdócio significa habituar-se a dar uma resposta pessoal à questão fundamental de Cristo: ‘Tu amas-me?’. A resposta, para o futuro sacerdote, não pode ser senão o dom total da sua própria vida”.

Trata-se de traduzir este espírito, que não poderá jamais esmorecer na Igreja, nas condições sociais, psicológicas, políticas e culturais do mundo actual, aliás tão variadas quanto complexas, como testemunharam os Padres sinodais relativamente às diferentes Igrejas particulares. Com uma incidência carregada de notória preocupação mas também de grande esperança, eles puderam conhecer e reflectir longamente sobre o esforço de investigação e de actualização dos métodos de formação dos candidatos ao sacerdócio, presente em todas as suas Igrejas.

Esta Exortação pretende recolher o fruto dos trabalhos sinodais, estabelecendo alguns dados adquiridos, mostrando algumas metas irrenunciáveis, colocando à disposição de todos a riqueza de experiências e de itinerários formativos já experimentados positivamente. Ao longo das suas páginas, considera-se de forma distinta a formação “inicial” e a formação “permanente”, sem nunca esquecer, no entanto, o laço profundo que as une e que deve fazer das duas um único itinerário orgânico de vida cristã e sacerdotal. A Exortação detém-se nas diversas dimensões da formação humana, intelectual, espiritual e pastoral, como também nos ambientes e nos responsáveis pela própria formação dos candidatos ao sacerdócio.

João Paulo II, Exortação Pós-Sinodal Pastores Dabo Vobis, n. 42