Quando é colocada uma caleira num edifício o seu principal objetivo é conduzir a água pluvial para um determinado sítio, onde não prejudique as paredes, com humidade por exemplo; por vezes a água pode ser conduzida para um depósito onde se acumula para um uso posterior. Quem está a ler isto deve se estar a perguntar o que é que uma caleira pode ter a ver com a vida.
A imagem da vida como uma casa é já muito descrita, mas voltemos uma vez mais a ela. Numa casa a água da chuva pode ser prejudicial, se entrar vai estragar o interior, para que tal não aconteça é necessário o telhado e se a telha for regional é preciso retelhar com frequência, caso contrário acumulam-se ervas, as telhas escorregam, entre outras vicissitudes. Como já disse, a caleira encaminha as águas e direciona-as para um ponto específico, para um lugar apropriado, só que, por vezes, a caleira também acumula terras, que não se veem num primeiro momento, mas basta cair uma semente do que quer que seja que logo dessa terra brota umas pequenas mondas, que vão crescendo e com as raízes vão fazendo com que cada vez mais sujidade fique acumulada na caleira. É então que é necessário subir e retirar as ervas e fazer a devida manutenção, que além de estética é também funcional.
O telhado da nossa vida protege-nos dos problemas do exterior, protege-nos dos pecados, das mágoas e agruras do quotidiano, no entanto ele requer manutenção constante, mais que o de uma casa de pedra e barro. A sabedoria espiritual do cristianismo oferece-nos imensas ocasiões e meios para que possamos fazer a manutenção do nosso telhado e da nossa caleira, nomeadamente o exame de consciência diário, que permite tirar as pequenas ervas que vão ficando entre as telhas; a confissão e a direção espiritual são essenciais para a que a caleira leve a água até onde deve chegar; só que para a manutenção mais “grada” é preciso parar, retirar-se do habitual e fazer silêncio, caso contrário as pequenas ervas que não se viam do caminho vão crescendo e tomando conta da caleira, para isso temos os retiros espirituais. Com isto não estou negando o valor do exame diário, nem da direção espiritual, muito menos desprezando a eficácia do sacramento da reconciliação, estou apenas a dizer que só parando é que vemos o cenário total, só olhando à distância o teto da casa é que reparamos nas ervas daninhas e só assim as podemos eliminar eficazmente.
É com o objetivo de limparmos as caleiras da vida, que eu e os meus colegas, nos vamos retirar ao longo de uns dias. Vamos poder olhar à distância a vida, para que identifiquemos as ervas que estão maiores e que precisam ser arrancadas. Pedimos que cada um de vós, que leu esta pequena reflexão, que nos ajude com a sua oração, para que a limpeza seja profícua e possamos levar a água da vida até onde é precisa, até onde Deus nos pede que ela vá.
Dinis Toledo, 5.º ano