Pelo Padre Emanuel Valadão Vaz

Como é bom tomarmos decisões que provoquem a nossa inércia, o adormecimento pastoral. Mesmo que isto nos faça ter horas extraordinárias de preparação, de encontros, de programações, entre outras preocupações.
O nascimento da Aldeia da Esperança foi assim uma lufada do Espírito para abanar com todos nós, com os jovens, com a sociedade civil e com todos os que acreditam nos recomeços, a partir da fé em Jesus Cristo, Crucificado/Ressuscitado. E isso foi possível porque houve quem dilatasse o seu coração para se deixar conduzir, não pela sorte, mas por Aquele que em muitos momentos diz aos seus discípulos: “Tranquilizai-vos! Sou Eu! Não temais” (Mt 14,27).
Ser peregrino exige abandonar tantas coisas e tantos pontos de vista. É um despojamento do ter e do ser. É um abandono nas mãos daquele que ilumina o nosso chão, o nosso caminho.
Os jovens que participaram na Aldeia da Esperança, muitos deles retirados do seu mundo virtual, viram o quanto é saboroso estarem juntos à volta de um ideal que lhes preenche a vida.
Eles próprios sentiram e tocaram o sentido de uma comunidade genuína, que buscava algo para a sua vida. Uma comunidade a viver o ideal da fraternidade cristã, de uma espiritualidade real, não fictícia.
Mesmo não estando muito claro na sua mente e coração experimentaram o bom odor da santidade, do próprio Cristo: Em muitos momentos experimentaram o que Maria, irmã de Marta e Lázaro, viveu, sentada aos pés de Jesus: “…mas uma só (coisa) é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc 10,42).
Os jovens, que disseram presente ao convite, surpreenderam-nos pela sua entrega, o seu interesse e acima de tudo pela própria leitura pessoal que fizeram da diversidade de possibilidades de tocarem a fé de forma simples e profunda. Tantos são os seus testemunhos sobre o que sentiram e viveram que mereceria ser feito um diário das vivências humanas e espirituais. Esta memória vivencial não se pode perder quando o fogo abrasador que se acendeu na Fajã do Santo Cristo, na ilha de S. Jorge, começar a baixar a sua intensidade. Não se trata do fogo do dragão, mas do fogo do Espírito, e esse quando incendeia os corações é difícil de se extinguir.
Estou certo que Deus gravou muito de Si na vida dos adolescentes e jovens presentes naquela reserva ecológica: “A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. É evidente que sois uma carta de Cristo… escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo…” (2Cor 3,2-3).
O pequeno grão de mostarda desceu à cripta de cada jovem e está a ganhar forma no silêncio interior de cada um. Para cada um deles e para nós, é preciso manter o sentido de vigilância num grau elevado, sob o risco de pensar que Deus não precisa da nossa cooperação.
No decorrer da Aldeia da Esperança preparou-se um bom fermento, que agora precisa de ser colocado na massa para a poder levedar.
Estamos todos convencidos disso? Ou ainda precisamos de mais sinais para saber o que cada um e todos em conjunto precisamos de fazer?
“No tempo favorável, ouvi-te e… vim em teu auxílio. É este o tempo favorável..” (2Cor 6,2)