Fábio Silveira, natural do Pico, receberá a ordenação diaconal. É, nesta fase, o último seminarista açoriano a completar a sua formação exclusivamente nos Açores

A Sé de Angra acolhe este domingo, 23 de novembro, às 16h00, a celebração de ordenação diaconal de Fábio Silveira, natural do Pico, com 36 anos e, no contexto atual, o último seminarista que completou a sua formação integral e exclusivamente nos Açores.
A cerimónia será presidida pelo Bispo de Angra e contará com a participação da comunidade diocesana, que é convidada a associar-se a este momento significativo da vida da Igreja nos Açores.
Fábio Silveira nasceu na ilha do Pico há 36 anos, numa comunidade pequena onde cedo despertou para a arte e para a sensibilidade musical que o acompanhariam por toda a vida. Foi essa vocação artística que o levou, há 15 anos, para a ilha Terceira, sem imaginar que aquele território desconhecido se tornaria o cenário da sua transformação pessoal, espiritual e pastoral.
Chegou à Terceira para estudar na Universidade dos Açores e rapidamente mergulhou no ambiente académico e cultural, tornando-se figura ativa em tunas, grupos corais, bandas e projetos artísticos. Maestro da Tuna “Sons do Mar”, compositor de bailinhos de Carnaval e colaborador frequente de grupos filarmónicos e coros, Fábio afirmou-se como uma presença constante nos palcos da ilha — do Teatro Angrense ao Auditório do Ramo Grande — e mais tarde também no Pico, onde regressava todos os anos para participar em eventos culturais.
Foi através deste circuito artístico que se cruzou com o padre Eduardo Rosa, figura marcante da cultura terceirense, que o integrou em projetos de música sacra, apresentações do espólio de Tomás de Borba e concertos em diversas igrejas. Esses encontros, que misturavam arte, fé e comunidade, acabaram por tornar-se sementes silenciosas da sua futura caminhada vocacional.
Apesar da realização artística e da vida profissional construída, algo permanecia incompleto. Aos 28 anos, num processo gradual de escuta interior, Fábio reconheceu que “faltava um sim”. Era um chamamento antigo, mas nunca assumido como possibilidade real. Com receio da exigência académica e consciente de que ingressava no seminário mais tarde do que o habitual, decidiu, ainda assim, iniciar o percurso de discernimento.
Entrou no Seminário Episcopal de Angra em 2018, numa altura em que a casa acolhia cerca de 25 seminaristas. Durante sete anos de formação, viveu transformações profundas, assistiu à saída de muitos colegas e foi consolidando a sua vocação. Terminaria o percurso sozinho, tornando-se o último seminarista — nesta fase histórica — a completar integralmente a formação nos Açores, antes de a Diocese adotar o modelo académico ligado à Universidade Católica Portuguesa, no Porto.
Durante estes anos, Fábio não abandonou a música, sempre presente como extensão da sua espiritualidade. A pastoral acompanhou-o em todas as etapas da formação: paróquias da Sé, Ribeirinha, São Sebastião, Fonte do Bastardo e, mais recentemente, as comunidades da Ouvidoria da Povoação, onde vive uma experiência mais madura e próxima das realidades do terreno.
Com a conclusão dos estudos, a instituição de leitor e acólito e o estágio pastoral cumprido, Fábio Silveira chega agora ao diaconado com um sentimento que descreve como “agridoce”: gratidão pelo caminho percorrido e consciência serena das mudanças que marcam a vida da Igreja nos Açores.
Para o novo diácono, a pastoral é hoje inseparável da proximidade, da escuta e da inserção real nas comunidades. E é com esse sentido de missão, alimentado pela fé, pela música e pela experiência humana que acumulou, que Fábio Silveira se prepara para servir.
No domingo, ao ser ordenado diácono na Sé de Angra, fecha um ciclo pessoal e histórico, e abre outro no qual pretende continuar a dar o seu sim, agora com a maturidade e a simplicidade de quem encontrou finalmente o lugar onde se sente inteiro.
A entrevista completa de Fábio Silveira poderá ser ouvida no domingo, depois do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.
