Oscar Wilde foi um homem à frente do seu tempo. No século XIX, este autor teve a audácia de viver os valores da emancipação sexual que hoje defendemos. Apenas tentou ser feliz e amar. Se calhar era mais digno do que qualquer um de nós que frequentamos a Igreja.
Libertou-se das repressões culturais de um moralismo obscurantista. (“A moral em matéria sexual é a responsável pela crise da Igreja, afasta as pessoas com a sua exigência por coisas diminutas que já ninguém se preocupa em viver, nem quer saber e que nunca preocuparam Jesus.”) Wilde, não se privou de nenhum dos prazeres que a vida tinha para oferecer, experimentou apaixonadamente de tudo – o amor sem rótulos, etiquetas ou preconceitos.
Oscar Wilde descobriu que o que importa é amar… Mas só no fim da vida. Quando agonizava no leito de morte, viu passar diante de si tudo o que vivera: viu como todos os prazeres a que se entregara, foram fugazes, efémeros e que não ia levá-los consigo após a morte. Foi isso que fez a sua vida valer a pena? Viu que o seu coração era demasiado grande para se contentar com a ética minimalista do “não faço mal a ninguém”. Comprovou que a vida é curta, não para “aproveitar”, mas para renunciar e levar a cruz (como a cruz da solidão, da abstinência ou da indissolubilidade) – o que é que custa uma vida de renúncia diante da morte e da eternidade?
Já começando a entrever isto, escreveu uma das suas obras mais lúcidas e incompreendidas: O Retrato de Dorian Gray. Nessa altura ainda não tinha força para abandonar a sua vida sexual liberal e abraçar a ascese. O livro constitui uma aguda análise do vazio existencial decorrente de um paradigma ético frouxo a que muitos eclesiásticos hoje estão a ceder com subtileza – “A Igreja não deixará de propor o ideal da complementaridade e da fecundidade” – dizem para se defender. Como se propor um ideal fosse suficiente…
Wilde chegará a dizer em cartas que o seu verdadeiro alter ego é Basil, um rapaz frágil e sensível que, por um lado não tem força para ser casto e asceta, mas que ouvindo a reta consciência não deseja a superficialidade de Dorian Gray nem de Lord Henry.
No fim da vida, lamentando a sua incompreensão da doutrina “moralista, repressora e retrógrada” do cristianismo, Wilde convence-se da Verdade da Igreja Católica, recebe os sacramentos e morre em paz com Deus. No século XIX, os católicos tinham ideias claras e isso permitiu que Oscar Wilde reconhecesse a seu tempo, a salubridade da sua doutrina, ainda que a sua primeira ação fosse o desprezo pela exigência. Ai de nós, se para agradar o mundo disséssemos a Wilde que Deus não quer saber da sua cama!… No fim da vida ele diria “que Igreja implacável que se preocupou mais com obter o meu agrado na juventude do que verdadeiramente comigo… Não foi a mãe que me repreendeu e conduziu para a salvação, mas uma dessas amigas inconsequentes que só se preocupou com ter a minha aprovação e estima”.
Tenho uma esperança muito grande na salvação de Wilde por quem rezo para que saia do Purgatório se lá estiver, ou, no céu interceda por nós. Há mais alegria por um só pecador que faça penitência (Lc 15, 7), e que alegria considerar que esta nobre alma se deixou conduzir para o mundo fascinante do catolicismo que espera o melhor de nós e nos manda aspirar às coisas do alto (Col 3, 1): A nossa vocação não é menos do que a santidade!
Afonso Silveira, 3° ano