O conforto da modernidade roubou-nos tempo para olhar o Céu

Padre António Vaz Pinto foi o orador do segundo dia das IV Jornadas de Teologia de Angra

O homem moderno não tem tempo nem espaço para Deus porque a sua vida é preenchida por deuses que lhe dão o que ele precisa no imediato, defendeu esta noite o padre António Vaz Pinto, o segundo orador das IV Jornadas de Teologia de Angra, que estão a decorrer online até amanhã.

De acordo com o teólogo, os progressos científicos e tecnológicos, na sua “ambivalência”, promovendo o melhor e o pior, potenciam o “ateísmo” da modernidade.

“O que seria o covid e a luta contra a pandemia se não fosse a ciência e a técnica?” interpelou o padre Vaz Pinto sublinhando que “a evolução técnica provocou uma espantosa transformação na vida do homem, criando um mundo muito diferente”. Mas, ao mesmo tempo “a ciência e a técnica criaram um horizonte imanente e terreno” de “satisfações imediatas” que “tiraram tempo e lugar ao verdadeiro Deus”

“Criámos novos e falsos deuses e o resultado é que nós estamos numa sociedade que não tem lugar para o transcendente” esclarece o sacerdote.

“Em termos psicológicos, Deus é a realidade através da qual desenvolvemos a nossa vida e, por isso criamos muitos deuses. Mas, qual é o verdadeiro, aquele que contribui para a completude do homem”, interpelou o teólogo ao constatar que os deuses modernos “que arranjamos satisfazem-nos plenamente e por isso não precisamos de Jesus Cristo”.

Este é, por isso, o grande desafio da sociedade ocidental e da Igreja, em particular: “Como podemos ultrapassar este ateísmo prático e teórico”, que é um dos “fenómenos universais mais negativos” da modernidade, referiu.

“Há uma luta entre Deus e os ídolos” mas também, há a certeza de que uma “sociedade assente na produção, no consumo e no materialismo tem ídolos com pés de barro” afirmou ao lembrar o momento atual.

“A pandemia mostra-nos isso: de repente a humanidade perdeu as peneiras e um bichinho, que não tem mais do que uma cabeça de alfinete, pôs-nos de joelhos”, frisou.

“A pandemia pode ser uma oportunidade para regressarmos ao essencial” referiu lembrando que “isso dependerá daquilo que o homem quiser”.

“Este tempo de pandemia é uma chance. A minha dúvida é se vamos aproveitar esta chance ou se a pandemia for vencida, as pessoas não se vão esquecer de novo. Uma coisa é certa: Deus só permite o mal para tirar dele um bem maior e nós temos de saber que lugar damos a Deus na nossa vida” e como a recentramos em ordem “ao bem, à justiça, à dignidade da pessoa”.

A oração e o testemunho são, para o padre António Vaz Pinto, dois caminhos para regressar à centralidade de Deus.

As IV Jornadas de teologia são promovidas pelo Seminário Episcopal de Angra em ambiente digital. Terminam esta sexta- feira com a intervenção de Carlos Fiolhais, físico e que irá refletir sobre o diálogo entre a Fé e a Ciência.

Igreja Açores (Com Gonçalo Brum)

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