O Yoga e o nazismo “inofensivo” de Elon Musk

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Estender o braço direito com a palma da mão voltada para baixo era uma saudação comum na cultura romana. O gesto é inocente e até pode ser terapêutico alongar o braço desse modo. Pergunto: o gesto é realmente inocente? A moralidade do ato tem apenas que ver com a fisicalidade?

Que relação tem isto com o yoga? Veja uma coisa, caro leitor: “Não tem problema nenhum praticar yoga se não for ligado a nenhum conteúdo religioso, até porque há benefícios físicos implicados na respiração e no modo de trabalhar o corpo.” O argumento é tão contorcionista como a posição do arco (chakrasana). O yoga tem um contexto originário espiritual que não se pode varrer para debaixo do tapete.

O nazismo instrumentalizou de tal modo a saudação romana que não consideramos de bom grado que se a repita (como nos parece ter feito recentemente Elon Musk). É um passado tão real e tenebroso, demoníaco até, que não queremos a mais leve ligação ao totalitarismo. Não está em causa equiparar o yoga com o nazismo na sua essência. Sublinho apenas o princípio de que certos símbolos ou atos são demasiado carregados de simbolismo e história para se ter em conta só a fisicalidade e dizer “mas eu não ligo a isso nem tenho essa intenção”. Se sou incapaz de repetir a saudação nazi pela sua pesada carga histórica, porque haveria de praticar o yoga, que nasceu num contexto espiritual idolátrico? A idolatria é um pecadinho inofensivo?

Se fosse só para alongar o corpo, chamar-se-ia “ginástica”; se fosse só para respirar, chamar-se-iam “exercícios respiratórios”. O yoga tem algo de especificamente seu, de modo que é yoga e não outra coisa. Tem uma conotação religiosa absolutamente estranha, quando não contrária, ao cristianismo. Não rejeito o que existe de bom nessas conceções religiosas, mas é inegável que se afastam em muitos pontos do que o cristianismo propõe e segue (Cf. NA 2). Cremos que “a única religião verdadeira se encontra na Igreja Católica e Apostólica” (Cf. DH 1). Na travessia do Povo de Deus pelo deserto, sobejamente aludida na Quaresma, o Povo é constantemente chamado à fidelidade e confiança no único Deus e não nas práticas filiadas aos movimentos religiosos gentílicos.

Ainda dentro das práticas orientalizantes, salvas as devidas diferenças, está o reiki. É impressionante o testemunho de Alexandra Serra, que foi acompanhada pelo Padre Duarte Lara. Quero dizer com isto que as precauções da Igreja não são mera teoria abstrata, têm corroboração na realidade de quem caiu e de quem combate estes problemas.

Por caridade, elucidem quem está na ignorância parcial ou total. E, pela vossa saúda física, façam desporto e respirem fundo, exercitem-se, enfim, mas, pela vossa saúde espiritual, não seja por meio do yoga. Não nos foquemos no que não podemos fazer, porque é muito mais aquilo que nos é permitido. «Podes comer do fruto de todas as [outras] árvores do jardim» (Cf. Gn 2, 16).

Afonso Silveira (seminarista)

Siglas

NA      Concílio Vaticano II, Declaração Nostra Aetate (1965).
DH      Concílio Vaticano II, Declaração Dignitatis humanae (1965).

Sugestão de leitura complementar

Congregação para a Doutrina da Fé, Carta aos bispos da Igreja Católica acerca de alguns aspectos da meditação cristã, 15/10/1989.

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