Que parte de Deus ainda te falta amar?

Na Liturgia da Palavra das últimas semanas, temos escutado uma coleção de respostas de Jesus aos fariseus que, de domingo a domingo, teimosamente, abordam Jesus com perguntas ambíguas, à espera de um raciocínio mal construído para O poderem condenar, por atentado à lei.

Os fariseus abordam Jesus nos mais diferenciados domínios da sociedade: na justiça, na política, na religião… e de pergunta em pergunta, como não conseguem ver para além do seu umbigo e das suas zonas de conforto, ou do alto dos seus pódios, não aceitam as respostas renovadoras e comprometedoras de Jesus.

As respostas de Jesus têm como alicerce o amor. O raciocínio de Jesus é, em primeira instância, redigido no coração. Por isso, perante a hipocrisia farisaica, o amor é sempre a melhor, aliás, a única resposta que pode calar aqueles que andam com a lei debaixo do braço.

De facto, o nosso quotidiano seria muito mais facilitado se seguíssemos um conjunto de regras e normas, de acordo com um sistema de “Leis para homens”. Deste modo, nada nos alertaria para a necessidade de sairmos de nós próprios, por que bastaria sermos uns “certinhos” cumpridores da nossa To Do List e das nossas obrigações pessoais.

Fazer do nosso dia-a-dia um mero cumprimento da lei, muitas vezes, leis egocêntricas, faria da nossa vida um palco de fantoches, onde os “doutores das leis” guiar-nos-iam com as pontas dos dedos: faz isso, sem perguntares porquê; vai para ali, mesmo que não saibas o caminho; paga isso e só depois justificas a tua dívida ou as tuas carências; presta culto ao teu Deus por que assim serás salvo… Segundo a lei dos doutores, só há deveres a cumprir, rituais a celebrar,  um Deus para “adorar”, conforme um paradigma imposto.

Os fariseus, desta vez, abordam Jesus sobre “qual o maior de todos os mandamentos”.

A preocupação, para além de pôr Jesus à prova, é diminuir a sua pessoa porque, para os fariseus, a lei é poderosa e ninguém, nem mesmo Jesus, é superior a ela. As palavras de amor de Jesus desconcertam as leis. Por isso, os fariseus pretendem calar Jesus e fazer com que Ele saia de cena de uma vez por todas.

Eles sabem muito bem que o maior dos mandamentos é “Adorar a Deus”. E nisso, Jesus dá-lhes nota suficiente. No entanto, a resposta de Jesus compreende-se muito além do que eles podem entender. Jesus não fala da lei: fala do Amor. Os fariseus conhecem o mandamento, mas não sabem como adorar a Deus.

Jesus, ao falar do amor a Deus, não nos convida a estarmos uma vida de mãos postas, que multipliquemos as nossas rezas, nem está a pedir que tenhamos os mais belos sentimentos para com o Pai…  “Amar o Senhor, nosso Deus, com todo o nosso coração, com toda a nossa alma e com todo o nosso espírito” remete-nos, obrigatoriamente, ao amor ao próximo.

Por isso, Jesus agrupa ao amor a Deus o amor ao próximo, imprescindivelmente. São, deste modo, dois mandamentos comprometidos. E é na comunhão destes dois que nasce a Religião do Amor, assente em Jesus. Só o amor é digno de fé. Uma religião que prega o amor a Deus e se esquece dos que sofrem e dos injustiçados pelas leis, é uma grande mentira. Luciano Manicardi, no seu livro “A Caridade dá que fazer”, refere que “a caridade é o amor ao próximo e a justiça é o amor aos direitos do próximo”. A única postura realmente humana ante qualquer pessoa que encontramos no nosso caminho é amá-la e procurar o seu bem como quiséssemos para nós mesmos.

Já ouvimos milhares de vezes este adágio tão cristão, e parece que tem vindo a decair ao longo dos tempos. Ainda hoje, existem imensos fariseus, tal como os contemporâneos de Jesus, que não conseguem compreender este fundamento, e com as leis debaixo do braço, pretendem justificar tudo. Tal como no tempo de Jesus, também hoje o problema é a falta de amor.

Amamos com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, com todo o nosso espírito os nossos irmãos? Se sim, parabéns! Se não, que parte de Deus ainda te falta amar?

 

Jorge P Sousa

6º Ano

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