COMPORTAMENTO GERA COMPORTAMENTO

Quem de nós nunca sentiu que o sorriso que recebeu foi resultado do sorriso que ofereceu?

Ou que a pessoa que está à nossa frente se apressou devido ao facto de ter notado o nosso ritmo acelerado e impaciente?

Ou, então, quem nunca se sentiu desmotivado ao ver o outro também desmotivado?

O facto é que ninguém consegue abstrair-se totalmente do mundo que o rodeia.

Estes são exemplos de linguagem não-verbal, ou seja, uma linguagem sem palavras, mas que, na maioria das vezes, acaba por ser muito mais poderosa. Se de outro modo fosse, não faria sentido o dito “uma imagem/uma atitude vale mais que mil palavras”.

O homem, enquanto ser social, age e está exposto ao conjunto de ações daqueles que o rodeiam. Até o silêncio, como resposta, é uma forma de comportamento. Só podemos falar em ausência de comportamento, quando efetivamente a pessoa deixa de ter vida, ou seja, quando morre.

Ora, já São Tomás de Aquino, quando falava das cinco vias da existência de Deus, dizia, na chamada via do movimento, que, se uma coisa se move, é porque foi movida por outra. Aliás, também a física explica que a ação gera uma reação, da mesma forma que comportamento gera um comportamento.

Por isso, temos que saber gerir o nosso comportamento, pois é através dele que promovemos o nosso relacionamento interpessoal. Sobretudo quando assumimos um cargo de importância ou com alguma exposição, em que passamos a ser uma espécie de referência, devemos ter muito cuidado, pois todos nos observam, por um lado, para nos pôr à prova e ver se somos coerentes e, por outro, para aprender de nós como devem agir.

Desde muito cedo, temos esta capacidade de observar o outro, a nossa referência, que se traduz sobretudo na relação, em primeira instância, com os pais, tal como se pode comprovar pelas teorias comportamentais da criança quando está a formar o seu desenvolvimento moral, precisando de modelos, ou seja, de alguém por quem tenha um grande respeito e admiração, para poder gerar em si a noção do bem agir.

Na maioria dos casos, os pais são responsáveis pelos comportamentos dos filhos. Ora porque são demasiado permissivos e deixam fazer tudo, ora porque são demasiado autoritários e não deixam fazer nada. O comportamento das crianças é resultado dos ensinamentos, dos valores, das regras, dos limites, do afeto e, principalmente, do exemplo que dão.

Assim, as crianças são seres em “construção” e portanto vão absorver tudo aquilo que o meio onde estão inseridas lhes transmite, quer seja segurança, medo, autoritarismo, solidariedade, partilha ou exclusão. Por exemplo, muitas vezes quando uma criança chega a casa, vinda da escola, e diz que um colega lhe bateu, os adultos têm tendência para perguntar porque não lhe bateu também. Ou seja, se levou, também tem o direito de dar. E isto é claramente errado! Que mensagem estamos a passar às crianças quando lhes dizemos isto?

A resposta é clara: que a violência deve ser resolvida com violência. E depois ficamos admirados com uma sociedade que acorda todos os dias com notícias de casos de violência e até de crimes de morte.

As crianças precisam de exemplos, de regras e de limites para se sentirem seguras. Quando estou a definir regras e até onde ele ou ela podem ir, estou a passar-lhe segurança. Estou a criar a pessoa que espero que o “meu” filho ou filha venham a ser. Mas atenção, uma criança não precisa apenas de regras e exemplos, precisa de amor para que também possa dar amor aos outros. Só assim teremos adultos mais felizes, tolerantes e agregadores.

Esta questão do exemplo começa, portanto, desde que conseguimos captar do outro a sua ação, os seus valores e os seus pensamentos. No entanto, é algo que nos acompanha a vida toda, pois somos permanentemente, e até sem dar conta, influenciados pelo comportamento dos outros.

Há dois mil anos, tivemos o exemplo pleno e perfeito do comportamento que se deve gerar em nós. Alguém que veio desconstruir, escandalizar e devolver o amor! Alguém que sobretudo soube dar exemplo com a vida, com os gestos.

São Francisco de Assis dizia: “Evangeliza sempre, e se precisares, usa palavras…”. Reparem pois na profundidade desta frase… na importância que se dá ao agir, ao exemplo, ao mostrar o amor com gestos concretos e não com sermões moralistas.

Jesus foi o gesto que a humanidade precisava, para aprender d’ Ele o Amor do Pai. Esse amor só faz sentido na relação interpessoal, de que falávamos acima, nunca entrega total ao outro.

Nesse tempo, Jesus “comportou-se” diante dos discípulos, para que neles se gerasse também o mesmo tipo de gesto. Hoje, somos convidados ao mesmo, mas através da atualidade da Sua Palavra, do testemunho dado pela Sagrada Tradição e pelo exemplo dos Santos e referências a nível mundial, como a Santa Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela, o Papa Francisco e até o exemplo tão recente do professor Franciscano Peter Tabichi.

A própria linguagem bíblica tem vários imperativos que nos falam da importância do ser exemplo para os outros, agindo, para que, ao verem, sigam os mesmos passos. Em João 13, 15, diz-nos: “Dei-vos um exemplo para que, como Eu vos fiz, também vós o façais”; Em Gálatas 3, 6 “Considerai, pois, o exemplo de Abraão: “Teve fé em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça”; em 1 Pedro 5, 3: “Nem como ditadores daqueles que vos foram confiados, antes, tornando-vos exemplos do rebanho.”

Jesus foi o exemplo por excelência, aquele que com o seu comportamento Bom (e não um simples bom comportamento) tornou válida a expressão de que o comportamento gera comportamento. Ou, em específico, que aquele comportamento bom, devia ser imitado por todos.

Concluindo, apelo apenas ao vosso cuidado na relação uns com os outros. Mesmo sem darmos conta, somos armas poderosíssimas nas questões sociais relacionadas com a ética e a moral. Qualquer gesto, por mais simples que seja, influencia certamente alguém que está perto de nós.

Embora já estejamos a terminar este tempo da Quaresma, tentemos praticar o comportamento Bom, o comportamento que marca e que é capaz de gerar nos outros a capacidade de querer também seguir esse caminho.

 

Eu não preciso de ti.

Tu não precisas de mim.

Mas, se tu me cativares, e se eu te cativar, ambos precisaremos um do outro.

Antoine de Saint-Exupery

Gonçalo Brum

2º Ano

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