Professor Catedrático da Universidade Lateranense foi o orador dos dois últimos dias das VI Jornadas de Teologia do Seminário, propondo uma reflexão sobre os desafios pastorais numa Europa descristianizada
Como pode a Igreja responder aos desafios pastorais de um mundo que pouco considera a Igreja, que atende a pessoas com dificuldades, materiais, físicas e cognitivas, é afinal uma das grandes reflexões que o sínodo convocado pelo Papa está a gerar, afirmou esta noite o pastoralista Paolo Asolan, orador convidado das VI Jornadas de Teologia do Seminário de Angra, que decorreram esta sexta-feira e sábado em Angra.
A partir de muitos dos desafios colocados já pela constituição apostólica conciliar Lumen Gentium, onde se aflora o papel dos leigos na execução pastoral da Igreja, o sacerdote, que é professor na Pontificia Universidade Lateranense, colocou a questão central: “como evangelizar nos dias de hoje e que desafios se colocam às paróquias como comunidades de discípulos de Jesus”.
“É necessário discernir a presença e a chamada que o mundo nos faz; temos de estar no hoje de cada sociedade e não no futuro. Não gastemos energias contabilizando fracassos e entusiasmando-nos com profecias” afirmou o sacerdote, que alertou para a necessidade de se “ultrapassarem feridas e más experiências do passado”, centrando-nos “na pedra angular que é Cristo”.
Paolo Asolan apelou ao “discernimento comunitário” e propôs uma reflexão sobre os conselhos pastorais, dentro de uma paróquia ou de uma diocese.
“Não se trata de convocar assembleias de condóminos, onde as pessoas se digladiam e se decidem coisas práticas e onde o administrador deve conciliar interesses diversos. Nos conselhos pastorais devemos, colocar-nos como os discípulos à escuta do Espirito; Ele é o nosso administrador” afirmou.
“Cada decisão pastoral tem de ser discernida e, por isso, quem as toma, ou é chamado a tomá-las, deve colocar-se à escuta” referiu salientando a importância de nas relações comunitárias haver “caridade e fraternidade”.
O sacerdote falou especificamente do papel do padre, cuja formação não se esgota no Seminário defendo a necessidade de se formarem equipas pastorais em cada comunidade.
“Já não é o padre sozinho que toma as decisões; deve haver uma equipa que gere a parte executiva da pastoral” afirmou o sacerdote, alertando para a necessidade do caminho “ser conjunto: padre e leigos, especializados e competentes em áreas especificas”.
“São estas equipas que tratam as coisas do mundo, orientando-as para Deus” referiu especificando os novos problemas com que as comunidades se confrontam: a família, os migrantes e os mais frágeis.
“Recebendo do Espírito Santo, o conselho deve ser munido de um vinculo de caridade uns com os outros, num ambiente de partilha e fraternidade”.
“Estas reuniões- ocasiões pastorais- devem ser experiências belas, nas quais se participa com gosto, cujo objetivo final é discernir a vontade de Deus em cada momento. Não é um parlamento que reúna pessoas que defendem ideias próprias”, concluiu.
Na primeira de duas conferências que proferiu, o sacerdote reforçou a “centralidade da pastoral famíliar” numa comunidade; a “formação permanente dos padres”, para que possam exercer “uma verdadeira paternidade evangélica” e agir “segundo a vontade de Deus”.
“No fundo, precisamos de reaprender a caminhar como díscipulos, todos juntos”.
“A igreja está inserida no mundo e é aí que se joga a sua relevância: não existe o mundo e a Igreja, tudo está interligado e os cristãos são o mundo que crê em Jesus e que se deixa transformar pelo Espírito Santo”, concluiu.
A iniciativa, promovida pelo Seminário Episcopal de Angra, começou no passado dia 2 de março e teve dois tempos: um primeiro virado mais para os arquivos, numa ação que lançou as comemorações dos 500 anos da diocese, sublinhando os caminhos que vão ser desenvolvidos para a elaboração da História Religiosa dos Açores, por ocasião das comemorações dos cinco séculos de criação da diocese de Angra e agora, uma segunda etapa mais virada para as questões pastorais. E que é encerrada este sábado com a intervenção do bispo de Angra.
Fonte: Igreja Açores