Caminhar e fazer caminhada é tarefa de cada um de nós. Todos percorremos o caminho da vida em diversas etapas, não é novidade. No meu caso, estou a aproximar-me a passos largos do fim de uma etapa e dou por mim a pensar que nem sempre tive a ousadia, ou talvez até a humildade, de parar para fazer silêncio, para ouvir as palavras que ele tem para me dizer. A verdade é que vivemos embrenhados em tantos barulhos, tantas distracções, tantas coisas que nos fazem desviar a atenção do essencial e isso faz com que não tenhamos tempo para olhar para dentro do nosso coração. A par disso é verdade que também não queremos fazer silêncio porque sabemos que através dele vamo-nos encontrar connosco mesmos e isso exige sempre mudança, esforço, sacrifício… Sacrifício, palavra tão cara ao Homem do século XXI.
No entanto, é importante aceitar, principalmente, a vontade silenciosa de Deus, aquele plano oculto que conduz inexoravelmente a vida de cada um de nós. Isso faz sentido quando acreditamos que há encontros em que o silêncio é já uma parcela da eternidade pelo tudo que se transmite com a ausência de palavras. Esta sublime linguagem, que toca as almas mais sensíveis, é bela e profunda pela capacidade de dizer tudo sem simplesmente dizer nada.
Acredito que a força do silêncio faz-nos penetrar na verdade das coisas e as razões de Deus, que são muitas vezes misteriosas, só podem ser compreendidas quando permitimos que esta força nos envolva. Assim como o sol penetra a vidraça, sem fazer barulho, assim age Deus em nós. O silêncio é sempre capaz de anular as ditaduras do barulho. Se acreditássemos nisso, tudo seria mais fácil. O silêncio é difícil, mas é ele que, no fundo, torna o homem capaz de se deixar conduzir por Deus.
Não nos devemos esquecer que: “as coisas grandes realizam-se no silêncio. Não no barulho e na encenação dos acontecimentos exteriores, mas na claridade do olhar interior, no movimento discreto da decisão, em sacrifícios e vitórias escondidas, quando o amor toca o coração e a acção pede o espírito livre. Os poderes silenciosos são os poderes realmente fortes. Queremos fazer incidir a nossa atenção sobre o acontecimento mais discreto, o mais silencioso, cujas fontes secretas se perdem em Deus, inacessíveis aos olhos humanos.” (Romano Guardini, Le Dieu vivant)
Eu procuro no silêncio, acima de tudo, pensar na minha vocação. Eu penso nela. E tu?
Nuno Fidalgo
6º Ano