O Jubileu dos Seminaristas em Roma

Por Fábio Silveira

O Jubileu dos Seminaristas realizado esta semana em Roma, foi uma experiência profundamente marcante, vivida com intensidade e emoção por todos os participantes, assim o creio por tanto que vi. Com eventos e celebrações conjuntas, com o Jubileu dos Sacerdotes e o Jubileu dos Bispos, com o Santo Padre, mostrou-se como um verdadeiro encontro entre gerações e ministérios, reforçando o sentido de comunhão na fé e na missão de todos, que levou cada sacerdote ou bispos a colocar-se ao lado dos seminaristas, a rever-se em cada um deles, e a rever a sua própria vocação.

O facto de viver uma experiência jubilar junto do Santo Padre, poder atravessar as Portas Santas em peregrinação, e na Cidade Eterna poder contemplar o esplendor que nos deixaram os nossos antepassados na fé, assume um peso espiritual e emocional que não se assimila no próprio momento.

Recordo os eventos promovidos, os momentos proporcionados, e as próprias esperas entre eventos – momentos autónomos, não agendados, mas de grande riqueza onde se trocava uma e outra conversa com seminaristas e padres de várias nacionalidades, de variados tipos de formação, criando laços momentâneos, reunidos à volta do mesmo Deus, e exultando juntos as alegrias vividas. A ajuda mútua destes pequenos momentos foi não só genuína como também fraterna, desde um “este assento está vago?”, até ao “qual a tua nacionalidade? Em que ano de formação estás? És seminarista ou padre?”. Alavancas para viver mais fraterna e familiarmente aquelas horas que passaríamos juntos em cada encontro e celebração sempre diferente, como diferente era quem se sentava ao nosso lado. Estes encontros informais – com risos, conversas partilhadas e olhares atentos – revelaram quão rica pode ser a fraternidade à volta de um projecto comum: servir a Igreja.

A alegria pairava no ar: cada momento de oração em grupo, cada cântico entoado em coro, cada abraço entre os seminaristas e os seus formadores irradiava uma fé viva. Prepararam-se espiritual e humanamente para viver juntos aqueles momentos – era notório. Não eram apenas os vários encontros com o Papa que entusiasmavam, mas sobretudo a presença dos grupos, de cada um, o sentimento de pertença a uma família dedicada a Cristo. Ver tantos seminaristas, ao lado dos seus formadores e colegas, festejando e rezando juntos, como várias vezes lembrou o Papa Leão, confirmou a força de uma formação alicerçada na comunhão.

Um dos traços centrais dessas celebrações foi precisamente a mensagem de Papa Leão, sublinhando a importância da alegria evangélica como coreografia da vida clerical. Lembrou que a alegria partilhada se fortalece no serviço humilde – e que sem fraternidade e oração, o anúncio do Evangelho esvazia-se. Encorajou os jovens a manterem viva a centelha da esperança e do entusiasmo, mesmo diante dos desafios, testemunhando que «o caminho do discípulado é sempre um caminho luminoso, se o realizamos em fraternidade.

Uma semana vocacional acima de tudo, que culminou em esplendor na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus com a ordenação de 32 novos presbíteros de todo o mundo para a Santa Igreja, que recordou que a vocação não é minha, não é nossa, mas sim do Senhor das Vocações; que é Ele o oleiro, o verdadeiro formador. E quantas vezes tentamos formar por cima dEle.

O Jubileu foi muito mais do que uma série de eventos solenes; foi a vivência comunitária de uma fé alegre e transbordante. As sementes daquele convívio permanecerão como memória viva e farol para o futuro ministerial de cada um, e para mim de especial forma, com a possibilidade de participar neste encontro, depois de terminado o meu percurso académico no Seminário, e em período de espera para as Ordens Sacras, olhando em cada ordenação decorrida nos seminários do nosso país e do mundo durante estas semanas, a minha própria vida e a minha própria ordenação, para a qual me preparei ao longo destes anos, e que não será um fim, mas uma rampa para a verdadeira missão.

Continuará a ecoar nos próximos tempos, na minha mente, nos meus ouvidos e no meu coração, cada cântico conhecido de todos, cantado em coro, mas por cada qual na sua língua; aqueles gritos de fé chamando Jesus pelo seu nome, cada qual à sua forma; o fervor de 4000 seminaristas, 400 bispos e cerca de 4000 sacerdotes empolgados como que num estádio de futebol, mas torcendo juntos pelo mesmo clube -Jesus e a sua Igreja.

Não se sai dali apenas celebrados, mas fortalecidos no propósito de continuar a caminhada, juntos, sob o olhar amoroso de Cristo e o impulso do Papa Leão para sermos «apóstolos da alegria», hoje e amanhã.

*Fábio Silveira é Seminarista finalista do Seminário Episcopal de Angra

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