Por Miguel Tavares
Jericó não era um lugar qualquer! Era uma cidade onde se cruzavam esperanças, alegrias e desilusões, fruto das trocas comerciais que ali aconteciam. E, nessa cidade, morava Zaqueu, um mal-amado da comunidade, de baixa estatura. Podia ser baixo, mas era conhecido por todos pela sua enorme ambição. Era chefe de cobrador de imposto, aliado dos romanos, um “traidor” do povo que enriquecia às suas custas. Talvez, a sua baixa estatura era sinónimo disso mesmo.
No entanto, faltava-lhe sempre alguma coisa. E quantos de nós, por vezes, andamos assim? Cheios de coisas e vazios de sentido! O espaço sagrado da nossa interioridade grita silenciosamente, desalmadamente no interior do nosso coração vazio. Que se alimenta pelos olhares carregados de desprezo que se cruzam ao longo dos dias. Que se alimenta pela arrogância do ter e não do ser…
Até que um certo dia, o “famoso” Jesus de Nazaré vai até Jericó. Zaqueu, como tantos dos seus contemporâneos, ouve falar dessa passagem e sente curiosidade. Sobe, no alto da sua pseudo – superioridade, ao cimo de uma árvore para ver o tal Jesus de Nazaré. Mas, aconteceu a Zaqueu o imaginável. Zaqueu não viu Jesus. Zaqueu foi visto por Jesus. Talvez, pela primeira vez, foi olhado com compaixão e isso fez toda a diferença.
“Zaqueu, desce despreza!” Não o cobrador de impostos, não o “traidor”, não o ladrão, mas Zaqueu. Um nome que há tanto tempo não era prenunciado com amor. “Hoje, preciso de ficar em tua casa.” Certamente, desceu daquela árvore um Zaqueu comovido, admirado, livre, feliz, aceite.
Zaqueu, depois daquele encontro, mudou a sua vida. Seguramente, continuou com as suas fragilidades, anseios e medos. Mas, o seu olhar agora era diferente. A transformação começa por dentro, na interioridade do coração. Aquele que vivia apenas para acumular, vive agora para partilhar.
Uma coisa é certa, para Jesus ninguém está longe demais, perdido demais, excluído demais ou é pequeno demais. “Hoje, a salvação entrou nesta casa!”