NOLI ME TANGERE

Nas circunstâncias atuais, que provas seriam precisas para acreditar que alguém ressuscitou dos mortos? Permaneceria incrédulo? Cético? Sinto-me, muitas vezes, salvaguardado na “casa” do meu coração, com medo do mundo, tentando que Ele não afete a minha medíocre vida, que Ele não irrompa pela porta e me traga a paz? Mesmo assim, tendo essa consciência, eu fico apático e quase que uma miragem ou ilusão me passa pelos olhos.

Se soubéssemos verdadeiramente o que temos à nossa frente, quando Jesus nos entra pela vida e a transforma num giro completo que não tem retorno, não seria possível exprimir tão genuíno e profundo sentimento … quão poderosa é a presença de um Deus que por nós e por nossa Salvação desceu dos Céus e também por nós foi Cruxificado … Sepultado … e Ressuscitou.

Contemplando a Ressurreição … Madalena é a proto-testemunha do Ressuscitado, todavia … Não me toques! Podemos imaginar quão ingrata e agressiva possa ter parecido esta resposta de Jesus àquela que estivera lá e que o acompanhara. A ciência não explica bem a presença de espíritos, espectros ou energias, como queiram chamar, porque não consegue captar algo imaterial. É inexplicável, pois, a Ressurreição de Jesus, verdade da nossa Fé que ultrapassa as barreiras do tangível e do compreensível … Noli me tangere! Madalena é enviada aos Apóstolos, aqueles que o próprio Jesus enviará pelo mundo inteiro como suas testemunhas. Parece contraditório, pois oito dias depois Jesus aparece aos apóstolos, come com eles e depois revela-se a Tomé, deixando-se tocar, para que este o reconheça verdadeiramente vivo e tangível. Só com a força de Fé viva, testemunhada e praticada, dispensamos as evidências tangíveis.

Testemunhar a fé, e, acima de tudo, vivê-la nos tempos hodiernos é algo que desde o pontífice ao sacristão é urgente. Numa sociedade de máscaras, é imperioso que nós, cristãos, quebremos os hábitos podres e imorais que minam o nosso mundo e reduzem a fé a uma mera expressão de fanáticos ou hipócritas. Os tempos são duros, a Igreja de Cristo sofreu, sofre e sofrerá tribulações no mar da mundanidade, como uma barca abalroada por tormentos e tempestades que a desviam do seu caminho. Mas Cristo prometeu a Pedro, e nós cremos piamente, que as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Escusado será elencar estas mesmas tempestades e tribulações, todos nós as sabemos, resta a cada um fortalecer o seu testemunho e a sua vida, conformando-a à imagem do Bom Pastor, como pedras que se consolidam para fortificar a construção, tornando-a inabalável. Se assim for a nossa Fé, também será a Igreja.

Voltemos ao sepulcro … somos invadidos continuamente pelo mesmo impulso que invadiu Madalena na hora em que viu o Senhor, tocar e sentir o corpo presente à nossa frente. No entanto, como é que se pode tocar ou sentir algo que é intangível? A própria Ressurreição como mistério é indescritível, é mistério … Cristo ressuscitado é intocável, mas faz-se tocar pela sua presença, pela sua palavra e hoje pela Igreja, que é sinal da Sua presença no mundo. Acreditar na Igreja como sacramento de Cristo. Quão árduo é testemunhar este Cristo Vivo no meio de nós, como cabeça do Seu Corpo místico, que nos encaminha para a pátria celestial. Pátria que Ele nos prometeu e que nos franqueou pela sua Ressurreição. A pedra removida, melhor dizendo, atirada para o chão, jazendo, é símbolo da morte derrotada definitivamente por Jesus e, sobretudo, pelo seu amor que ultrapassa as barreiras biológicas e eleva a vida a um nível espiritual e metafisico que derruba qualquer separação física.

Que Cristo Vivo e Ressuscitado nos ajude a sermos verdadeiras testemunhas daquilo que recebemos da sua parte, para que Ele nos encontre capazes de tomar parte no seu Reino de Glória, de Justiça, de Paz e de Amor.

Coloco-me outra vez no papel de Madalena, chorando sobre a pedra removida, o corpo desaparecido … ouço-me chamado pelo meu nome … respondo como ela, a apóstola dos apóstolos, ao reconhecer o seu Senhor:

– Mestre!

– Não me toques! Anuncia-Me aos irmãos, Vivo e Ressuscitado … hoje por ti e por vós!

 

Rui Soares

2º Ano

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