Três dias de graça passados na Ilha do Arcanjo deixaram-me a ponta dos dedos a fervilhar pela necessidade de transmitir quando me foi permitido vivenciar naquela que é a maior manifestação de fé do nosso povo açoriano, religioso e entusiasta pela sua própria índole. Também eu me deixar contagiar por esta cascata de fé, envolta em sentimentos, lágrimas, esperanças e muita confiança. Ninguém fica indiferente ao olhar acalentador da imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, ícone mais que expressivo do inigualável amor de Deus pelo seu povo que caminha mas vicissitudes da história. Contudo, as imagens de Cristo que mais me impressionaram foram os rostos de todos os meus irmãos e irmãs na fé, a maior parte deles desconhecidos para mim, mas que me transmitiram lições silenciosas de uma profunda espiritualidade. Em cada rosto, em cada olhar, em cada balbuciar de prece pude perceber que a fé que nos irmana não é um mero sentimento mas que não pode esquecer esta dimensão que é intrínseca à nossa própria natureza humana. Os tempos não são de bonança e é curioso constatar que, depois de esgotadas as propostas de felicidade do mundo hodierno, tantas vezes envoltas em mantos pouco diáfanos, o homem do nosso tempo volta-se para o seu Criador, elevando-lhe o seu grito sedento de plenitude. Penso estar aqui a chave de compreensão da experiência religiosa que a todos nos envolve. Vêm-nos necessariamente à mente as sábias palavras exaladas da profundíssima mente de Santo Agostinho: “Criastes-nos para vós, Senhor, e o nosso coração não repousa enquanto não descansa em vós.” A inquietude que nos assola só pode encontrar a sua satisfação plena n’Aquele que nos ama mesmo antes de sermos gerados (Jer 1,5).
Por outro lado, a descoberta do amor primordial de Deus tem de nos levar à nossa co-responsabilidade para com o amor fraterno. Eis o maior desafio que nos levará a prolongar a festa celebrada pelos tempos fora: descobrir o nosso Deus no rosto do irmão. Nada mais exigente, nada mais verdadeiro, nada mais humano, nada mais divino. Nada mais necessário para que a fraternidade não seja utopia mas encarnação. Ontem, hoje e sempre!
Jacob Vasconcelos
5º ano