Cuida da tua vida espiritual

«A Igreja do deserto» (Act 7,38)

Foto: A Igreja no deserto

O deserto é, etimologicamente, um lugar abandonado, um lugar do qual todos fugiram porque nele faltam as condições necessárias para viver. Por isso no deserto há solidão. Ninguém vai para o deserto, ou melhor: o deserto é deserto porque todos o abandonaram.

O deserto, com efeito, é um lugar onde o ser humano experimenta a sua vulnerabilidade e se encontra numa impotência total, sem os habituais apoios, tendo de admitir e enfrentar a sua própria mortalidade. O deserto é o sinal da nossa total impotência, porque é aí que se revela a nossa debilidade, porque é aí que não se pode sobreviver. Falta o pão e a água, faltam as relações normais com os outros, que nos permitem viver. No deserto, o homem descobre-se na sua verdade: miserável, pobre, cego e nu (cf Ap 3,17). Por isso, o deserto é um lugar para onde ninguém quer ir, e onde ainda menos quer ficar. Ninguém pode ir para o deserto por sua própria iniciativa. Só o Espírito pode atrair para o deserto, como fez com Cristo.

Tal como a Igreja, cada um de nós é atraído pelo Espírito para o deserto. Ele faz-nos intuir que, no deserto, há alguma coisa, alguém, que o torna fascinante. E essa atração é mais forte do que o medo que instintivamente se sente no deserto. «O que torna belo o deserto», diz o Principezinho, «é que ele esconde um poço em qualquer lado». É verdade: escondido nas profundezas do deserto há um poço e, na borda deste poço, está sentado Jesus, sozinho, à nossa espera, para nos dizer: «Dá-me de beber» (Jo 4,7). E esta mulher à qual Jesus pede de beber «é figura da Igreja», como diz Santo Agostinho.

Também para Deus há um deserto, e este deserto é a ausência do homem, a recusa do homem que não quer corresponder ao seu amor divino.

Deus, porém, continua a desejar encontrar alguém que corresponda, de verdade, ao seu amor (cf Jo 4,23); por isso seduz a Igreja, atrai-a ao deserto para lhe falar ao coração (Os 2,16).

Só no deserto, quando todos os rumores e as vozes se calam, só então Deus pode falar ao nosso coração e mostrar-nos o seu verdadeiro rosto.

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