Sentinelas

O vosso lugar é no cimo da muralha:
Para revelar os sinais daquele que desde sempre
Espera às portas da cidade.
Eu vos constituí sentinelas:
É a vossa função, é o vosso lugar,
É o vosso ministério!
Mas para que serviria a sentinela
Que se queima nos calores do dia
No mais alto das muralhas,
Enquanto os seus irmãos se perdem na noite?
Para que serviria a sentinela que, no mais alto das muralhas,
Escuta com deslumbramento
As palavras que saem da minha boca,
Enquanto os seus irmãos tropeçam
Nas calçadas da cidade?
Por isso é que, homens da terra, tende cautela!
Não passeis todo o tempo sobre as muralhas,
Descei.
Ireis para o meio dos vossos irmãos.
Voltá-los-eis para a aurora,
Para o lado onde nasce o sol.
Dizei-lhes que a noite está a terminar,
Mesmo se ainda há alguns fios de trevas,
Que o dia nasce e que a felicidade está mais perto
Do que eles nunca pensaram.
Ireis para o meio dos vossos irmãos
Para lhes cantar a música
Que brota da minha ternura.
Ireis com os vossos irmãos para abater todo o lodo
Que impede a luz de incidir nos sulcos da terra.
Ireis para o meio dos vossos irmãos,
É o vosso ministério.
Não exigireis nenhum poder.
Mas tomareis o poder de amar.
Homens da terra, são precisas sentinelas:
Sobre a muralha e no meio do meu povo!
Charles Singer