Entrámos na Quaresma, ou seja, caminhamos a passos largos para aquela que é a maior solenidade da Igreja, a Páscoa. A Quaresma é um tempo, como sabemos, de jejum, oração e caridade; é um tempo de penitência e de conversão.
Curiosamente, o Carnaval também faz parte desta caminhada para a Cruz, sendo, pois, a partida ou então o começo deste tempo penitencial. Apesar do desconhecimento de muitos, o Carnaval tem relação com o Cristianismo, pois para muitos autores o nome “Carnaval” tem a sua origem etimológica na expressão latina “carne vale”, que quer dizer, “adeus à carne” ou “despedida da carne”, pois era no Carnaval que o consumo de carne era considerado lícito pela última vez antes do tempo de jejum quaresmal. Para outros autores, a palavra “Carnaval” deriva da expressão latina “carnem levare”, que quer dizer “suspender ou retirar a carne”.
Esta festividade do Carnaval tem a sua origem na Idade Antiga, remontando a séculos anteriores ao nascimento de Cristo. Embora tenha sofrido diversas alterações ao longo dos tempos, a própria Igreja teve um papel importante no processo de conversão da própria festividade. Deste modo, o Carnaval, no decorrer da Idade Média, ganhou um sentido de propedêutica da Quaresma, bem como da Páscoa, pois no Carnaval vivia-se alguns dias de folia e de animação, “despedindo-se” da carne, surgindo assim como um período onde as pessoas pudessem extravasar os seus desejos antes de começar a Quaresma, para que nos 40 dias seguintes vivessem a contrição e o jejum de uma forma mais séria e marcante. O Carnaval é o momento de preparar e de colocar de parte os prazeres e desejos carnais. Durante a Idade Média, o Carnaval podia durar meses, começando logo após o Natal e acabando antes da Quaresma.
No Carnaval, sempre foi comum a realização de brincadeiras e peças de teatro, bem como o consumo de muita bebida e de comida, inclusive carne, que era um alimento a que nem toda a gente tinha acesso durante o resto do ano.
Interessante, também, é a forma como se inicia a Quaresma. Começando na Quarta-feira de Cinzas. Durante a imposição das cinzas, o celebrante diz: “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho!” ou então também pode dizer: “Lembra-te que és pó, e ao pó voltarás!” marcando de forma clara a nossa natureza finita e a necessidade de nos convertermos para que nos possamos salvar.
É deveras engraçado e curioso esta relação que o Carnaval tem com a Quaresma e com a própria Páscoa, sendo que, para chegarmos à Ressurreição de Cristo, partimos do Carnaval, caminhando durante 40 dias para nos convertermos e arrependermos; passando pela Cruz, cantamos vitória, pois Cristo venceu a morte e ressuscitou. E é esta a alegria pela qual vale a pena trabalhar: é para este mundo e para sempre.
Gonçalo Furtado, 2º ano