Sacerdotes Ilustres do Seminário

D. João Paulino de Azevedo e Castro

(Lajes do Pico, 4 de Fevereiro de 1852 — Macau, 17 de Fevereiro de 1918) foi o 19.º bispo de Macau, tendo governado a Diocese entre 1902 e 1918.

D. João Paulino de Azevedo e Castro

João Paulino de Azevedo e Castro nasceu na vila das Lajes do Pico, filho de Amaro Adriano de Azevedo e Castro e de Maria Balbina Carlota de Bettencourt, conhecida como a ‘’morgada’’ dadas as suas relações de parentesco com a antiga aristocracia local.

Frequentou entre 1869 e 1874 o Liceu da Horta, onde completou os estudos preparatórios, ingressando seguidamente no Seminário de Coimbra. Matriculou-se posteriormente no curso de Teologia da Universidade de Coimbra, na qual se formou em 1879. Recebeu em Coimbra as ordens eclesiásticas menores, sendo conhecido entres estudantes do tempo pela sua inteligência e pelo uso de uma longa barba (a que jocosamente chamavam de barba paulina).

Nesse mesmo ano de 1879 regressou aos Açores, onde a 31 de Agosto, em Angra do Heroísmo, foi ordenado sacerdote pelo bispo D. João Maria Pereira do Amaral e Pimentel. O padre João Paulino, nome pelo qual ficou conhecido nos Açores, celebrou a sua primeira missa na Igreja Matriz das Lajes do Pico a 14 de Setembro de 1879. Foi ordenado de presbítero no mesmo dia que o seu irmão mais velho, o padre Francisco Xavier de Azevedo e Castro e também no mesmo dia celebraram a sua primeira missa.

Sendo encardinado na Diocese de Angra, foi colocado logo no ano em que se ordenou na cidade de Angra do Heroísmo, onde iniciou funções como professor do Seminário Episcopal de Angra. Homem de saber eclético, foi encarregue da leccionação de múltiplas disciplinas do curso do seminário, entre as quais teologia dogmática, direito canónico, geografia, história, filosofia e francês. O padre João Paulino residiria durante 23 anos no Seminário de Angra, cumulando com o cargo de professor a missão de vice-reitor nos últimos 16 anos, lugar para o qual foi nomeado em 1888. Professor distinto e respeitado, criou no Seminário um Museu de História Natural, que depois viria a ser o embrião do Gabinete de História Natural do Liceu de Angra do Heroísmo. Parte da peças então coleccionadas estão hoje à guarda da [Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade]. Instituição herdeira daquele estabelecimento de ensino.

Para além das suas funções docentes, foi presidente da comissão administrativa do Asilo de Mendicidade de Angra do Heroísmo (1894-1902) e director do Boletim Eclesiástico dos Açores, cargo em que demonstrou o seu discernimento em assuntos de direito canónico e civil. Era considerada uma das figuras eclesiásticas mais distintas de então, desempenhando vários cargos de responsabilidade e de honra.

Em 1889 foi apresentado cónego da Sé de Angra e em 1890 foi elevado à dignidade de tesoureiro-mor da mesma Sé. Em 1891 nomeado arcediago, cargo que não chegaria exercer por ter sido entretanto apresentado para prelado de Macau. A apresentação para o lugar foi iniciativa do então Ministro da Marinha e Ultramar, o açoriano Jacinto Cândido da Silva, que havia sido seu contemporânea na Universidade de Coimbra.

A Santa Sé, por bula do papa Leão XIII datada de 9 de Junho de 1902, confirmou-o como bispo de Macau. A sagração episcopal ocorreu a 27 de Dezembro de 1902, na Igreja de Nossa Senhora da Guia do extinto Convento de São Francisco de Angra, imóvel onde então se encontrava instalado o Seminário Episcopal. Foi consagrante D. José Manuel de Carvalho, o recém-empossado bispo de Angra, mas que fora o anterior bispo de Macau, que assim sagrava o seu sucessor apostólico. Esta foi a primeira sagração episcopal realizada nos Açores, despertando grande interesse e emoção.[5] A cerimónia foi relatada no Boletim Eclesiástico dos Açores[6]

D. José Paulino partiu de Angra para Lisboa, com destino a Macau, no dia 6 de Fevereiro de 1903, tendo sido muito concorrida a cerimónia da sua despedida.

Em Lisboa tratou junto do Ministério da Marinha e Ultramar dos negócios pendentes da sua cúria, partindo a 23 de Março de 1903 com destino a Lurdes e Roma. No Vaticano foi recebido em audiência particular pelo papa Leão XIII, partindo depois para Bombaim e dali para Macau. Escalou os portos de Malaca e Singapura, então parte da sua jurisdição episcopal.

D. José Paulino tomou posse da Diocese de Macau a 4 de Junho de 1903, data em que chegou a Macau. Naquele mesmo ano fundou a 17 de Julho de 1903 o Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau, o qual se manteria em publicação até à actualidade. Iniciou também uma enérgica acção pastoral, não só em Macau, mas em toda a vasta área do sueste asiático que então se encontrava integrada naquela diocese.

Visitou as missões do Estreito de Malaca e Singapura (cidade onde a 5 de Junho de 1904 abençoou a primeira pedra da Igreja de São José), Timor (1905) e Hainan (1906), áreas onde fomentou o zelo missionário e a criação de novas escolas e missões. No ano de 1906, fundou em Macau o Orfanato da Imaculada Conceição, que entregou à direcção dos Salesianos. O foi primeiro director do orfanato foi Luigi Versiglia (1873-1930), depois bispo titular de Carystus e vigário-apostólico de Shiuchow (hoje Shaoguan), mártir e santo da Igreja Católica Romana.

Reorganizou as missões católicas no então Timor Português, ao tempo parte da diocese de Macau. Dedicou-se com igual energia ao governo diocesano, criando novas missões, colégios e aulas no seminário, então o principal estabelecimento de ensino de Macau. Por várias vezes presidiu ao conselho governativo da Província de Macau, na ausência do governador.

Outra das suas preocupações foi a delimitação das áreas sob jurisdição da diocese de Macau, em particular a delimitação entre a sua diocese e a Prefeitura Apostólica de Kuangtung (Cantão), não apenas nas áreas adjacentes, mas também nos territórios do sudoeste da China. A questão foi suscitada por solicitação do governo francês junto da Sagrada Congregação de Propaganda, já que os Governos de Portugal e da França estavam interessados na fixação de novas delimitações à diocese de Macau e Prefeitura Apostólica de Cantão, esta sob jurisdição francesa.

Neste processo conseguiu em 1908 o retorno à diocese de Macau, e por consequência ao Padroado Português no Extremo Oriente, da Prefeitura Apostólica de Shiu-Hing (hoje Zhaoqing), que havia sido sem sucesso permutada com a ilha de Hainan, devolvida ao domínio do prefeito apostólico de Cantão.

Ainda no âmbito da reestruturação da Diocese de Macau, em 1911 entregou a província de Heung-Shan (actual Zhongshan) à administração espiritual dos Salesianos e em 1913 repartiu a Prefeitura de Shiu-Hing entre os jesuítas e os sacerdotes diocesanos.

Interessou-se pelo o problema jurídico e espiritual do Padroado Português no Extremo Oriente, redigindo e publicando em 1917 a obra Os Bens das Missões Portuguesas na China. Também produziu e publicou uma vasta obra pastoral, incluindo numerosas provisões e escritos de natureza doutrinal, os quais foram reunidos e publicados postumamente por iniciativa da Fundação de Macau.

Na sua ida para Macau, D. João Paulino levou como secretário particular, o então seminarista José da Costa Nunes, seu conterrâneo da ilha do Pico, que haveria de lhe suceder no cargo e atingir o cardinalato.

Manteve sempre o desejo de regresso aos Açores, mas faleceu em Macau. Em 6 de Fevereiro de 1923 foram os seus restos mortais solenemente trasladados para a vila das Lajes do Pico, onde hoje é lembrado na toponímia e onde existe um monumento em sua memória. Também é lembrado na toponímia de Macau.

 

Cardeal D. José da Costa Nunes

Cardeal D. José da Costa Nunes

José da Costa Nunes  (em mandarim, 高若瑟) (Candelária do Pico, Açores, 15 de Março de 1880 — Roma, 29 de Novembro de 1976) foi um bispo católico que exerceu as funções de Bispo de Macau (1920 – 1940) e Arcebispo de Goa e Damão (1940 – 1953). Foram-lhe concedidos os títulos honoríficos de Primaz do Oriente e de Patriarca das Índias Orientais (1940), sendo elevado a cardeal em 1962. Foi também professor, músico e escritor.

José da Costa Nunes nasceu na freguesia rural da Candelária, no sudoeste da ilha do Pico, filho de José da Costa Nunes e Francisca Felizarda de Castro, uma família de lavradores. Depois de concluir os estudos primários na sua freguesia natal, realizou em 1892, no Liceu da Horta da vizinha ilha do Faial, o exame de admissão aos estudos liceais, sendo aprovado. Ingressou então no Seminário Episcopal de Angra (em 1893).

Durante o seu percurso como seminarista colaborou em jornais e revistas, usando múltiplos pseudónimos, revelando precocemente talento para a escrita e para a oratória. A sua obra posterior, nos múltiplos artigos jornalísticos, textos de conferência, pastorais, homilias e cartas que produziu, confirmam esta característica.

No Seminário Episcopal de Angra fez com brilhantismo os seus estudos, recebendo a 1 de Junho de 1901 a Prima Tonsura e Ordens Menores na Igreja de Nossa Senhora da Guia do antigo Convento de São Francisco de Angra, imóvel onde então funcionavam conjuntamente o Seminário e o Liceu de Angra do Heroísmo.

Em 1902, quando frequentava o último ano de Teologia do Seminário e se preparava para a ordenação, foi convidado pelo vice-reitor daquele estabelecimento e seu conterrâneo do Pico, João Paulino de Azevedo e Castro, então eleito bispo de Macau, a acompanhá-lo como seu secretário particular. Aceitou o convite e após a sagração de D. João Paulino, conferida em Angra pelo bispo cessante de Macau D. José Manuel de Carvalho, partiu na companhia do novo prelado, chegando a Macau a 4 de Junho de 1903.

Durante a viagem para Macau, acompanhou D. João Paulino nos seus contactos com as autoridades civis e eclesiásticas em Lisboa e Roma e visitou Bombaim e Singapura.

Chegado a Macau e feito o exame de Teologia no Seminário Diocesano de São José de Macau, foi ordenado presbítero em 26 de Julho de 1903.

Em Macau desenvolveu actividades pastorais, foi professor no Seminário de S. José (1903 – 1906), Vigário Geral da Diocese de Macau e Timor (1906 – 1913), governador do bispado (1907) e fundador do jornal Oriente (1915). Por provisão de 6 de Maio de 1915 foi nomeado vice-reitor interino do Seminário.

Esteve nas missões de Malaca, Singapura e Timor (1911). Desenvolveu também actividades missionárias no Timor Português no período de 1913 a 1920.

Por morte de D. João Paulino, em sessão do cabido realizada a 22 de Fevereiro de 1918 foi eleito vigário capitular, cargo que exerceu até 16 de Dezembro de 1920, data do consistório secreto que o preconizou bispo da diocese de Macau.

A sua nomeação para prelado resultou do trabalho que desenvolveu como vigário capitular na recuperação das finanças e na reorganização interna da diocese de Macau.

No dia 16 de Dezembro de 1920 foi eleito Bispo de Macau. A sua ordenação episcopal deu-se a 20 de Novembro de 1921, na Igreja Matriz da Horta, sendo sagrado por D. Manuel Damasceno da Costa (1867 – 1922), bispo de Angra.

O novo prelado fez entrada solene na sua sede diocesana a 4 de Junho de 1922, governando-a até 1940. O seu trabalho missionário na extensa diocese de Macau traduziu-se por um marcado crescimento do número de católicos, que de 29 628 em 1918 passou para 50 916 em 1940.

Também se dedicou à reorganização das estruturas pastorais ali existentes, entregando o Seminário à direcção espiritual dos Jesuítas e o Colégio de Santa Rosa de Lima às irmãs Franciscanas Missionárias de Maria. Fundou em Macau um colégio para rapazes chineses, através do qual introduziu o ensino profissional. Deve-se-lhe também a reparação de diversas igrejas que se encontravam arruinadas.

Na região do sul da China que se encontrava sob a jurisdição da diocese de Macau, D. José da Costa Nunes procurou reavivar as missões católicas ali sediadas e aumentar o número de missionários, e fazer crescer o número de igrejas, residências, escolas e obras de assistência.

No então Timor Português, ao tempo parte da diocese de Macau, reconheceu a crise que ali vivia a Igreja Católica, fundindo os dois vicariatos existentes e procurou melhorar a vida eclesiástica, religiosa, catequética e financeira. Para melhorar a educação religiosa, fundou uma escola de catequistas, que ministrava ensino equivalente ao 3.º ano dos liceus e habilitava os formados a leccionar a instrução primária. Também criou um colégio e uma escola de artes e ofícios.

Tendo em conta a distância entre Macau e Timor e as grandes diferenças culturais e pastorais entre ambos os territórios, solicitou à Santa Sé a elevação do vicariato de Díli a diocese, o que foi concedido por bula de 18 de Janeiro de 1941.

Nos territórios/paróquias de São José (Singapura) e de São Pedro (Malaca), também parte da diocese de Macau, intensificou a acção pastoral, dotando a igreja local de estruturas escolares próprias e fomentando o espírito missionário.

Em 11 de Dezembro de 1940, aos 60 anos de idade, foi nomeado pelo papa Pio XII para o lugar de arcebispo de Goa e Damão e arcebispo-titular de Cranganor, Primaz do Oriente, com o título de Patriarca das Índias Orientais. Partiu de Macau para a sua nova diocese a 25 de Novembro de 1941, possivelmente devido à Segunda Guerra Mundial, cujos efeitos já se sentiam em Macau.

Chegado à Índia, a 18 de Janeiro de 1942 tomou posse da Sé de Goa e iniciou a visita pastoral a toda a sua extensa arquidiocese, visitando-a toda, incluindo Damão, Nagar-Aveli e Diu.

Em Goa continuou o trabalho de modernização e de elevação intelectual das populações católicas que iniciara em Macau, ganhando grande projecção pública.

A 6 de Setembro de 1946 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Império Colonial e a 29 de Agosto de 1953 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.[1] A 16 de Dezembro de 1953, foi oficializada a sua renúncia ao cargo de arcebispo de Goa e Damão, tendo nesse dia o papa Pio XII investido D. José da Costa Nunes nas dignidades de vice-Camerlengo da Cúria Romana e de arcebispo-titular de Odessa (Odessus), conservando o título pessoal de Patriarca.

Entretanto, a 13 de Julho de 1953, a Santa Sé nomeara-o presidente da Comissão Permanente do Congresso Eucarístico Internacional, na Cúria Romana. O Papa João XXIII elevou-o a cardeal da Santa Igreja, com o título de cardeal-presbítero de Santa Prisca, no dia do seu onomástico, São José, a 19 de Março de 1962, impondo-lhe o barrete cardinalício a 22 de Março daquele mesmo ano. A 23 de Junho desse ano foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

Participou no Concílio Vaticano II (1962–1965) e foi cardeal-eleitor no conclave de 1963 que elegeu o Papa Paulo VI.

Em 1964 foi nomeado pelo Papa Paulo VI legado papal para as comemorações do IV Centenário das Missões da Companhia de Jesus em Macau e IV centenário da chegada dos primeiros missionários católicos a Macau. Durante a sua estadia em Macau como enviado papal foi homenageado pelos seus antigos diocesanos, que o proclamaram cidadão benemérito da cidade de Macau e descerraram o seu retrato no salão nobre do Leal Senado de Macau.

Em 1967, participou como Legado a latere do Papa Paulo VI nas Festas Jubilares de Fátima, onde foi novamente homenageado.

A 30 de Agosto de 1970 inaugurou na freguesia da Candelária do Pico, o Patronato Infantil da Casa de São José, entregue às Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição. Foi o primeiro estabelecimento de educação pré-escolar da ilha do Pico e um dos primeiros dos Açores, tendo funcionado até 2005, ano em que encerrou por falta de crianças na zona que servia. Para tal doou a sua própria casa, a qual hoje se encontra transformada em casa-museu, dedicada à sua memória.

Perdeu o direito de participação no conclave de eleição papal a 1 de Janeiro de 1971, por ter mais de 80 anos de idade.
Morreu em Roma no dia 29 de Dezembro de 1976, aos 96 anos e depois de 23 anos de serviço na Cúria Romana. O seu corpo foi sepultado no cemitério Campo di Verano, Roma, e transferido posteriormente para a Igreja de Santo António dos Portugueses, também em Roma. A 27 de Junho de 1997 os restos mortais do Cardeal Costa Nunes foram solenemente trasladados para a igreja paroquial da Candelária, nos Açores.

A 6 de Setembro de 1946 foi condecorado pelo governo português com a Grã-Cruz da Ordem do Império Colonial, a 29 de Agosto de 1953 com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo e, finalmente, a 23 de junho de 1962 foi com a Grande-Cruz do Infante Dom Henrique.

Em Macau, um jardim de infância de língua portuguesa, operado pela Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, tem como patrono este cardeal português e ex-bispo de Macau (Jardim de Infância de D. José da Costa Nunes). O mesmo acontece com o principal estabelecimento de ensino do seu concelho natal, a Escola Básica e Secundária Cardeal Costa Nunes (Madalena do Pico).

 

D. Manuel Medeiros Guerreiro

(Santa Cruz, Lagoa, Açores, 12 de Abril de 1891 — Santa Cruz, Lagoa, Açores, 10 de Abril de 1978), bispo de Meliapor e, depois, de Nampula;

Manuel de Medeiros Guerreiro GOI (Santa Cruz, Lagoa, Açores, 12 de Abril de 1891 — Santa Cruz, Lagoa, Açores, 10 de Abril de 1978) foi um clérigo e bispo da Igreja Católica, último titular da diocese de São Tomé de Meliapor (1937-1951), na Índia,[2] e bispo de Nampula (1951-1966), em Moçambique.
Nasceu na vila da Lagoa, ilha de São Miguel, Açores, filho de Manuel de Medeiros Guerreiro e de D. Maria da Glória Almeida. Depois de realizar estudos elementares na sua vila natal, ingressou no Seminário Diocesano de Angra, onde concluiu a sua formação religiosa, sendo ordenado presbítero a 24 de Agosto de 1913.

Tendo sido aluno distinto do Seminário, foi seleccionado pelo bispo de Angra para frequenatar o cursos de Filosofia e de Teologia na Universidade Gregoriana, em Roma. Foi aluno do Colégio Português de Roma, obtendo em 1919 o grau de licenciado em Teologia.

Regressou a Angra do Heroísmo em 1919, tendo sido nesse ano nomeado professor de Teologia e prefeito do Seminário Diocesano de Angra. No ano imediato (1920) foi nomeado pároco da freguesia da Conceição da cidade de Angra do Heroísmo, mantendo-se como professor externo do Seminário.

Em 1928, foi a nomeado vice-reitor do Seminário Diocesano de Angra pelo então bispo de Angra, D. António Augusto de Castro Meireles. Nessas funções foi um dos principais obreiros da reconstrução do edifício do Seminário angrense, dando-lhe a configuração que no essencial ainda mantém.

A 10 de Abril de 1937 foi eleito bispo de São Tomé de Meliapor, tendo sido sagrado na Catedral de Goa, por recomendação da Nunciatura Apostólica em Lisboa: Foi sagrante o Patriarca das Índias Orientais, D. Teotónio Vieira de Castro, em cerimónia realizada a 15 de Agosto de 1937, tendo entrada na sua diocese a 22 de Agosto daquele ano. Permaneceu naquela diocese até 1951, ano em que foi fundida com a Arquidiocese de Madrasta, deixando de fazer parte da Arquidiocese de Goa.

Foi então transferido, com data de 2 de Março de 1952, para a então Diocese de Nampula (hoje arquidiocese), em Moçambique, que governou até 30 de Novembro de 1966, data em que atingiu o limite de idade. A 11 de Setembro de 1962 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Império. Foi então nomeado bispo titular de Precausa (ordinário praecausensis), título que manteve até 27 de Janeiro de 1971, data em que resignou e passou a bispo emérito de Nampula, título com que faleceu a 10 de Abril de 1978, com 87 anos de idade.

 

D. José Vieira Alvernaz

(Ribeirinha do Pico, 5 de Fevereiro de 1898 — Angra do Heroísmo, 13 de Março de 1986) foi um prelado português, bispo de Cochim,

D. José Vieira Alvernaz

arcebispo de Goa e Damão, Patriarca das Índias Orientais e uma das figuras mais marcantes da presença portuguesa na Índia durante o século XX.
Foi ordenado padre em 1920. Em 1941, foi nomeado bispo de Cochim. Já em 1950, foi nomeado arcebispo-titular de Anasartha, arcebispo-coadjutor de Goa e Damão e patriarca-coadjutor das Índias Orientais.

Em 1953, sucedeu a Dom José da Costa Nunes como Patriarca das Índias Orientais, cargo que exerceu até 1975, quando retirou-se do patriarcado e tornou-se arcebispo-emérito de Goa.

Em 1961, depois da invasão indiana dos territórios portugueses, fugiu do território, e várias dioceses sufragâneas foram desmembradas (como já ocorria desde 1953).

Após sua renúncia, a Santa Sé colocou a Arquidiocese de Goa e Damão sob sua subordinação direta.

 

D. Jaime Garcia Goulart

(Candelária do Pico, 10 de janeiro de 1908 — Ponta Delgada, 15 de abril de 1997) foi o primeiro bispo da Diocese de Díli, que governou como vigário-geral entre 22 de janeiro de 1940 e 17 de janeiro de 1941. Foi nomeado em 18 de janeiro de 1941 para o cargo de administrador apostólico, funções que exerceu até 11 de outubro de 1945. Finalmente, foi eleito bispo, governando a diocese de 12 de outubro de 1945 a 31 de janeiro de 1967.
Jaime Garcia Goulart nasceu na freguesia da Candelária da ilha do Pico, filho de João Garcia Goulart e de Maria Felizarda Goulart. Foi parente pelo lado paterno e materno do cardeal D. José da Costa Nunes, já que a sua avó paterna, Isabel Emília da Costa, era irmã do pai do cardeal e a sua avó materna, Isabel Felizarda de Castro, era irmã da mãe do cardeal.

Inspirado pelo exemplo do primo, em 1921, com apenas 13 anos de idade, partiu para Macau em conjunto com outros 11 rapazes açorianos. Naquela cidade frequentou o Seminário Diocesano de São José. Ainda estudan

D. Jaime Garcia Goulart

D. Jaime Garcia Goulart

te de Teologia foi nomeado secretário do primo, então bispo de Macau.

Jaime Garcia Goulart aproveitou uma vinda aos Açores de D. José da Costa Nunes para concluir o curso teológico no Seminário Episcopal de Angra, cidade onde recebeu a ordenação sacerdotal a 10 de maio de 1931. Celebrou a sua missa nova a 15 de maio desse ano na si freguesa natal da Candelária do Pico.

Nesse mesmo ano regressou a Macau, cidade onde permaneceu até 1933, transferindo-se então para Timor, onde permaneceu até 1937 como comissário. Durante este período empenhou-se na fundação do Seminário Menor de Nossa Senhora de Fátima na missão de Soibada, o qual abriu as suas portas a 13 de outubro de 1936.

Em 1937 regressou a Macau onde permaneceu até 1940, ano em que regressou a Timor como de Vigário-Geral das missões daquele território.

Entretanto, graças aos esforços junto da Santa Sé de D. José da Costa Nunes, pela bula Sollemnibus conventionibus, de 4 de setembro de 1940, foi criada a diocese de Díli, ficando então sufragânea da Arquidiocese de Goa e Damão, sendo o padre Jaime Garcia Goulart nomeado, a 18 de janeiro de 1941, como o seu primeiro Administrador Apostólico. Desencadeada a Guerra no Pacífico, a situação em Timor agudizou-se, primeiro com a entrada de forças holandesas e australianas, a 17 de dezembro de 1941, e depois por uma brutal ocupação japonesa, em 19 fevereiro de 1942. Jaime Garcia Goulart exercia ainda Administração Apostólica quando se viu envolvido “num inicidente com os japoneses, por ter prestado assistência espiritual a alguns católicos australianos e haver emprestado o seu automóvel para o salvamento de um aviador ferido da R.A.F.”. Assim, no dia 15 de dezembro de 1942, teve de deixar a Administração Apostólica e “onze sacerdotes e dez religiosas, com um grupo de portugueses”, foram procurar refúgio na Austrália devido à ocupação japonesa daquele território.

Durante a Guerra do Pacifíco, no Timor português “quatro missionários encontraram a morte. Dois transmontanos, um nativo, o Pe. Abílio Caldas, e um terceirense, o Pe. Noberto Barros”

Terminada a Guerra, a Santa Sé nomeou a 12 de outubro de 1945 o padre Jaime Garcia Goulart como primeiro bispo de Díli. Estando na Austrália, a sua sagração foi realizada em Sydney, na Igreja de São Patrício, a 28 de outubro de 1945, sendo principal ordenante Giovanni Panico, então Arcebispo Titular de Iustiniana Prima e delegado apostólico na Austrália e futuro cardeal, e co-ordenantes Norman Thomas Gilroy, arcebispo de Sydney e futuro cardeal, e John Aloysius Coleman, bispo de Armidale. Assistiu o cônsul de Portugal em Sydney, Álvaro Brilhante Laborinho, e quase toda a comunidade portuguesa.
Deu entrada solene na sua diocese de Díli a 9 de dezembro de 1945, encontrando-a devastada e com a maior parte das estruturas pastorais em ruínas como resultado da ocupação japonesa de Timor, que terminara alguns meses antes.

Como prelado de Timor, D. Jaime Garcia Goulart dedicou particular atenção à missionação e à formação de sacerdotes timorenses. Durante o período em que esteve à frente da diocese, o número de católicos na diocese passou de cerca de 30.000 para mais de 150.000 e o número de alunos das escolas missionárias passou de de 1.500 para 8.000. No campo da educação, mereceu-lhe particular atenção a formação de catequistas, processo que havia sido iniciado anos antes por D. João Paulino de Azevedo e Castro, ao tempo bispo de Macau, e a consolidação do Seminário Menor de N.ª Senhora de Fátima, em Soibada.

Por decreto de 23 de maio de 1964, o governo português agraciou-o com o oficialato da Ordem do Infante D. Henrique, que lhe foi concedido pelos serviços prestados no Timor português.

Alegando cansaço e com a saúde abalada, D. Jaime Garcia Goulart pediu à Santa Sé, em 1965, a designação de um bispo coadjutor com direito de sucessão, tendo sido designado para tal D. José Joaquim Ribeiro, bispo titular de Aegeae, que então servia na Arquidiocese de Évora. Instalado o seu sucessor, resignou em 31 de janeiro de 1967, permanecendo como bispo titular de Trofimiana. No dia 28 de fevereiro de 1967, “[m]ilhares de pessoas concentravam-se no aeroporto [de Díli], nas margens da pistas e no troço de estrada que lá conduz”.[4] Manteria título até 27 de janeiro de 1971, data em que o resignou, passando a bispo emérito de Díli.

D. Jaime Garcia Goulart depois de resignar a sua diocese regressou aos Açores, onde chegou em agosto de 1967, fixando-se inicialmente na cidade da Horta, na ilha do Faial. Mudou-se depois para a ilha do Pico, onde na sua freguesia natal da Candelária dirigiu o Patronato Infantil da Casa de São José, instituição particular de solidariedade social fundada pelo seu primo cardeal D. José da Costa Nunes. Em 3 de novembro de 1985 foi um dos concelebrantes na cerimónia de bênção da Sé Catedral de Angra após a sua reconstrução dos danos causados pelos sismo de 1 de janeiro de 1980.

Motivos de saúde levaram-no a fixar residência junto de familiares em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, vindo a falecer, com 89 anos de idade, na cidade de Ponta Delgada a 15 de abril de 1997.

 

D. José Pedro da Silva

(Santo Antão, 5 de Abril de 1917 — Viseu, 23 de Maio de 2000), bispo de Tiava e auxiliar do patriarcado de Lisboa, posteriormente bispo de Viseu;

Nascido na freguesia de São Tomé, nos arredores da antiga vila do Topo, na ilha de São Jorge, Açores, José Pedro da Silva frequentou o Seminário Episcopal de Angra, completando os seus estudos em Roma, na Faculdade de Teologia da Universidade Gregoriana, onde se licenciou. Foi ordenado sacerdote a 24 de Abril de 1943 na Basílica de São João de Latrão.

Regressado à sua diocese natal, foi colocado como professor de Teologia no mesmo seminário onde estudara, sendo em 1953 nomeado director do jornal A União, órgão de imprensa propriedade da Diocese de Angra.

Prosseguindo uma carreira eclesiástica brilhante, foi em 1955 nomeado vigário geral da Diocese de Angra e elevado a cónego da Sé no ano imediato.

A 31 de Julho desse ano de 1956 foi eleito bispo titular de Tiava e nomeado bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa, cargo que exerceu até 13 de Fevereiro de 1965, data em que foi eleito bispo de Viseu, cargo que manteve até ser aceite a sua resignação, por ter ultrapassado os 70 anos de idade, a 14 de Setembro de 1988.

Foi nomeado Bispo de Goa, mas nunca chegou a tomar posse por entretanto ter acontecido a invasão pela União Indiana dos territórios portugueses.

Para além da criação de várias paróquias, a ele se deve a instalação de um emissor da Rádio Renascença em Viseu e a criação naquela cidade de um pólo da Universidade Católica Portuguesa.

Faleceu, em Viseu, onde vivia como bispo resignatário da diocese, no dia 23 de Maio de 2000. A Universidade Católica Portuguesa dedica-lhe no seu Centro Regional das Beiras uma biblioteca (a Biblioteca D. José Pedro da Silva), em homenagem ao seu labor em prol da expansão daquela universidade em Viseu.

 

Dom Paulo José Tavares

Dom Paulo José Tavares (chinês tradicional: 戴维理, chinês simplificado: 戴维理, pinyin: Dai Weili); (Rabo de Peixe, 25 de janeiro de 1920 – Lisboa, 12 de junho de 1973) foi um sacerdote católico açoriano e Bispo de Macau de 1961 a 1973, com uma longa carreira diplomática na Secretaria de Estado da Santa Sé de 1947 a 1961, ou seja, 14 anos.
Filho do camponês José Evaristo Tavares e de Maria Luísa de Amaral Tavares, nasceu no dia 25 de janeiro de 1920 em Rabo de Peixe, na Ilha de São Miguel, nos Açores, em Portugal.

Estudou no Seminário Episcopal de Angra de 1931 a 1941. Na Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, de 1941 a 1945, onde obteve a láurea em Direito Canónico com a tese «A Concordata entre a Santa Sé , Portugal e a Situação Jurídica da Igreja Católica em Portugal e alguns dos seus principais aspectos» de 1940; e na Pontifícia Academia Eclesiástica de 1945 a 1947. Entretanto, durante os seus estudos em Roma, no dia 24 de abril de 1943, foi ordenado sacerdote católico na Basílica de São João de Latrão.

Depois de concluir a sua formação diplomática na Pontifícia Academia Eclesiástica, ele trabalhou durante muitos anos na Secretaria de Estado da Santa Sé entre 1947 e 1961, sendo o primeiro açoriano a desempenhar um cargo neste importante dicastério da Santa Sé. Mais concretamente, ele desempenhou os cargos de adido, secretário, auditor e conselheiro de Nunciatura Apostólica.

Considerado muito próximo do futuro Papa Paulo VI, Paulo José Tavares foi nomeado Bispo de Macau no dia 24 de agosto de 1961 pelo Papa João XXIII. Foi sagrado bispo na Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma, no dia 21 de setembro de 1961, sendo o seu sagrante o Cardeal Secretário de Estado Amleto Giovanni Cicognani e os seus consagrantes o monsenhor Angelo Dell’Acqua e o Bispo de Leiria, D. João Pereira Venâncio.

Depois de ir aos Açores despedir-se da sua família, ele chegou à então colónia portuguesa de Macau no dia 27 de novembro de 1961, juntamente com o seu irmão e secretário particular, o padre Manuel Alfredo Tavares. Mas, rapidamente ausentou-se de Macau para tomar parte em todas as sessões do Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965. Durante o seu bispado, registou-se um desenvolvimento espetacular na área da assistência social aos necessitados e da educação da juventude dirigida pela Diocese de Macau. Mais concretamente, ele impulsionou a construção e ampliação de pelo menos vinte estabelecimentos assistenciais e de instrução católicos e criou o Conselho das Escolas Católicas (CEC), em 6 de março de 1967.

Durante a Revolução Cultural chinesa em Macau entre 1966 e 1968, resistiu com êxito aos ataques da elite político-comercial chinês de Macau alinhada com Pequim, da frágil administração portuguesa de Macau, chefiada pelo governador Nobre de Carvalho, e defendeu intransigentemente a liberdade das escolas católicas. Apesar do seu empenho na educação, o Seminário Maior de S. José (Macau) deixou de funcionar, no verão de 1967, devido à falta de segurança em Macau. Os poucos seminaristas que ainda restaram em Macau terminaram os seus estudos em Hong Kong e em Leiria.

D. Paulo José Tavares conseguiu que o Governo de Macau aumentasse o subsídio dos sacerdotes chineses, para equipará-los aos sacerdotes europeus, pertencentes à Missão do Padroado Português no Extremo Oriente. Ele nomeou António André Ngan Im-ieoc para governador do bispado (1966) e vigário-geral (1966-1974), sendo o primeiro padre chinês a ocupar estes cargos. As suas ações a favor do clero chinês criaram-lhe dissabores com o clero tradicional português e a frágil administração portuguesa de Macau.

Reorganizou as paróquias de Macau e a sua respectiva divisão territorial, dando à paróquia de São Lázaro uma nova natureza jurídica. Procedeu à ampliação da Igreja de São Lázaro e à construção da nova igreja paroquial de Nossa Senhora de Fátima (1967) e a da missão de Nossa Senhora das Dores (1966) em Ká-Hó, na ilha de Coloane. Visitou anualmente as missões portuguesas de Singapura e Malaca, embora ele e o Estado da Santa Sé fosse pela reintegração nas comunidades nacionais, estavam naquela altura dependentes da Diocese de Macau. Acolheu as Missionárias de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (1966), o Movimento dos Focolares e as Filhas de São Paulo (1969), sendo estas últimas vocacionadas para o apostolado dos meios de comunicação social.

No dia 23 de abril de 1973, embora muito doente, partiu para Portugal para participar nas reuniões da Conferência Episcopal Portuguesa. Depois das reuniões, a sua saúde piorou bastante e teve que dar baixa em Lisboa, onde acabou por falecer no dia 12 de junho de 1973. No dia seguinte, ocorreram as suas exéquias, que foram concelebradas ou assistidas por muitos arcebispos, bispos e sacerdotes, incluindo o Cardeal Patriarca de Lisboa D. António Ribeiro e o cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira. No dia 15 de junho de 1973, foi sepultado no cemitério de Rabo de Peixe, num sepulcro-capela mandado construir pela família. O seu nome está presente na toponímica de Rabo de Peixe e na casa onde viveu existe uma placa evocativa da sua memória.