A vocação vive o seu renascer. O mundo cristão que os nossos pais e avós viveram já não é este, antes não se ouvia falar de secularização, a maturidade psico-afectiva atingia-se mais tarde e o “padre” como exemplo de paternidade e respeito já nem sempre se impõe com a mesma credibilidade que no passado.
Este é o cenário em que se move o despoletar das vocações cristãs, sacerdotais e religiosas. Perguntamo-nos: porque há tão poucas vocações?
Em primeiro lugar, porque o ambiente em que assentamos os nossos valores e objectivos nem sempre é essencialmente religioso. Deus não faz parte da vida da sociedade nem da maneira de solucionar os problemas do Homem. E a fé, elemento crucial para a vida em Deus, tornou-se algo privado e individual. Por outro lado, a primazia do sobrenatural deu o seu lugar ao rentável, ao prático, ao contabilizado e ao cómodo. Face a este cenário, como decidir por um Deus que exige compromisso, desinstala e compromete? Se nas actividades da Igreja privilegiamos os momentos pastorais de encontros e iniciativas, onde podemos encontrar um caminho de intimidade e decisão por Jesus, no silêncio, na contemplação e na oração?
Num segundo aspecto, podemos reflectir sobre a própria Igreja, sobretudo a presença/ ausência de modelos de identificação no campo vocacional. Na história de cada vocacionado, há sempre alguém, um mensageiro ou intermediário tal com o anjo Gabriel, a anunciar e a discernir como Deus “olhou com amor” para si. É tarefa pessoal e comunitária ser responsável pelo discernimento e acompanhamento dos jovens nas suas batalhas interiores vocacionais.
E, por fim, em terceiro lugar salienta-se um aspecto muito pessoal e que entrava muitas vezes a resposta do “sim”: o medo. Numa realidade actual em que se prevê e planeia o futuro, qual o jovem que se arrisca por Jesus Cristo e, como Abrãao, sai da sua casa em busca da Felicidade e do Amor que o chamou. O medo limita e trava: o medo do compromisso definitivo, a não ser felizes na vocação, àquilo que outros vão dizer, a prescindir a uma série de comodidades e a manter-se num caminho de oração e intimidade com Jesus.
No fim e ao cabo, a vocação é uma questão de decisão, entrega e arriscar-se por Jesus. E no que diz respeito ao equivocar-se no caminho escolhido, antes enganar-se ao tomar um caminho do que enganar-se não tomando nenhum.
Pedro Lima, 6º ano