Editorial do Vol. V

Este quinto volume da presente revista recolhe algumas das intervenções das IV e V Jornadas de Teologia, após o interregno, devido a uma edição dedicada ao trabalho do Monsenhor António da Luz Silva, “Voluntarismo ético-anticristão de Nietezche

As IV Jornadas de Teologia realizaram-se de 17 a 19 de março de 2021 e tiveram como tema “O Átrio dos gentios – Ateísmo e fé: diálogo e procura”. Procuramos responder à pergunta pelo ateísmo e pelas razões da fé cristã, pela descrença ou pela indiferença, que devem recuperar a sua seriedade. Na verdade, no quotidiano persistem as respostas silenciadas, os olhares confiantes, mas também os preconceitos e as tensões culturais. A problemática é intensa quando atinge os limites da existência humana. Por isso, procurámos refletir acerca do diálogo corajoso e autêntico com o diferente, mas também sobre a procura intensa dentro da própria personalidade, que se adentra no mistério.

As jornadas iniciaram-se no dia 17 de Março de 2021, com a saudação de abertura pelo Padre Hélder Miranda Alexandre, que apresentou o volume III da revista científica do Seminário “Fórum Teológico XXI”, que compulsa as intervenções das III Jornadas de Teologia, integrando uma homenagem ao antigo professor do Seminário Monsenhor José Soares Nunes, falecido justamente no primeiro dia das Jornadas em 2019. Seguiu-se uma intervenção do Bispo de Angra, D. João Lavrador, que aprofundou a problemática do tema e cujo texto aqui publicamos: “Dizer «Deus», numa sociedade secularizada”.

Juan Ambrósio, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, foi o primeiro orador com uma conferência intitulada “O ensino da teologia, na fronteira do diálogo entre linguagens”. Problematizou-se o lugar da Teologia e o seu papel no espaço de fronteira entre a fé e o ateísmo, sobretudo numa sociedade marcada pela indiferença religiosa.

No dia 18 de março, o Jesuíta António Vaz Pinto apresentou o tema: “Ateísmo e Fé: perspetivas”. Como afirmou o relator, o homem moderno não tem tempo nem espaço para Deus porque a sua vida é preenchida por deuses que lhe dão o que ele precisa no imediato. De acordo com o teólogo, os progressos científicos e tecnológicos, na sua “ambivalência”, promovendo o melhor e o pior, potenciam o “ateísmo” da modernidade. Devido ao seu falecimento a 21 de Julho de 2022, não foi possível publicar a sua profunda reflexão. Aqui registamos o nosso reconhecimento e saudosa memória, assim como o seu esforço na fragilidade da sua saúde.

No dia 19 de Março, o reconhecido físico Carlos Fiolhais refletiu acerca do diálogo entre a Fé e a Ciência. Como defendeu, “a ciência fornece conhecimentos e soluções, mas não valores, e esses valores, que são necessários, podem ser dados pela religião que os deve sugerir, mas não impor”, e sublinhou a urgência “de um diálogo franco” entre a ciência e a religião. Apresentamos ao leitor a sua autorizada reflexão. “Na linha do pensamento de Galileu, advoga-se a possibilidade de «dois magistérios que não se sobrepõem» (uma expressão de Stephen Jay Gould) e a virtuosidade do diálogo entre esses magistérios na construção de um mundo melhor”.

As V Jornadas de Teologia tiveram como tema “estamos todos neste barco. Uma Igreja em (pós)pandemia”, na continuidade das palavras do Papa Francisco, na sua homilia de 27 de Março de 2020, na Praça de São Pedro: “Fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos”. Procurámos aprofundar o conhecimento desta sociedade em tempos de (pós) pandemia e como a Igreja pode e deve acompanhar os novos desafios, assim como os caminhos para uma nova evangelização, de identidade sinodal, e como mergulhar em águas mais profundas, e procurar responder às “alegrias, preocupações e esperanças” das mulheres e homens de hoje”.

No dia 22 de Março, o editor e o P. José Júlio Rocha apresentou o Volume IV desta revista da autoria do Monsenhor António da Luz Silva “voluntarismo ético-anticristão de Nietzsche”. O texto procura desmontar a argumentação nietzschiana, mas sobretudo purificar as imagens deturpadas de Cristo, do cristianismo e da moral cristã. Os seus argumentos continuam a apaixonar milhares de estudiosos. Por isso, mantemos o convite à leitura da anterior edição.

No dia 23 de Março de 2022, foram apresentadas as reflexões teológicas “Com Deus, a vida não morre jamais”, do doutorando P. Pedro Silveira Lima, “Para tudo há um tempo: tempo para demolir e tempo para construir” do pastoralista, e então Administrador Diocesano, Cónego Hélder Manuel Cardoso da Fonseca de Sousa Mendes.

A pandemia fechou as igrejas, mas a Igreja é chamada a ser uma presença catalisadora do encontro, “esperta em humanidade”, e ciente de que novos tempos implicam novos desafios, que impõem um novo olhar do homem consigo mesmo, com o ambiente, com a sociedade e com Deus. Os oradores convergiram numa ideia base: os problemas evidenciados pela pandemia constituem uma oportunidade para o homem se reencontrar consigo, com o seu próximo e, sobretudo, com Deus. Aqui publicamos as suas intervenções.

Sendo necessário auscultar o que nos ensinam as ciências humanas, no dia 24 de Março, a socióloga Maria da Piedade Lalanda apresentou o tema “Laços sociais na pós-pandemia” e o psicólogo Ricardo Brasil o tema “saúde mental pelos caminhos da pandemia”.

A partir de uma análise a dados estatísticos de 2020, relacionados com a taxa de nupcialidade e de fecundidade, a investigadora reconhece que a pandemia teve um impacto negativo nas escolhas dos açorianos. “Perante a transformação de laços sociais que resposta pode dar a Igreja? Alheia-se, integra ou exclui? A pandemia, e agora a guerra, mostram-nos a força da solidariedade e contrariam a globalização da indiferença” e “a Igreja, como comunidade, tem por missão dar sentido a essa solidariedade enquanto serviço ao outro, como uma ação pastoral”. Ricardo Brasil aprofundou o tema da saúde mental, que afectou sobretudo jovens e mulheres, registando-se um agravamento das depressões na ordem dos 25%.

Esta edição apresenta igualmente um estudo do P. Hélio Soares, “Secularização: o caso dos estatutos da irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres”, uma interessante reflexão acerca do papel da Igreja na legislação liberal.

Finalmente, aqui registamos um enorme reconhecimento a todos os intervenientes e benfeitores desta edição, não somente aos seus autores e revisores, mas também ao trabalho paciente e competente do Professor José Maria Saldanha.

 

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