Na Sagrada Escritura é impressionante como se refere bastantes vezes a mobilidade de Jesus e dos seus discípulos, dado que em todos os textos evangélicos, Ele viaja pela sua região. Mas, como nem todos os textos coincidem, a crítica vai nos ensinar a não-absolutização da não-cronologia dos Evangelhos.
Cronológicos ou não, sobressai o fulgor inquietante de Jesus, que não se acomodou, que levou a Boa-Nova por onde passou. E este apelo a ir e a desinstalarmo-nos é cada vez mais urgente, numa Igreja que se acomoda sobre a capa do pó, o manto do comodismo e senta-se no sofá com pantufas nos pés. De certeza que não foi isto que Jesus sonhou, se assim fosse, Ele não ter enviado os seus discípulos a evangelizar. Evidentemente que a lógica de Jesus começa num «ir». Nada se pode fazer sem uma ação que a desencadeie.
Neste tempo de idas e voltas, partidas e chegadas, que caracteriza o fim das férias e o começo do trabalho, a voz de Cristo impele-nos mais uma vez: «ide e ensinai».
Ide! Desinstala-te do teu sofá e arregaça as mangas, há muito campo para trabalhar, muita messe para cuidar. A cada ano há uma nova oportunidade de recomeçar e trabalhar mais um pouco, sempre mais, sempre a progredir na escada que conduz ao seio do Pai. A nós que somos chamados a trabalhar na vinha do Senhor, essa frase tão retumbante da boca de Jesus ecoa-nos várias vezes, e que Ele nos ajude, fazendo com que a sua mensagem penetre mais e melhor nos corações daqueles que Ele chamou a segui-l’O.
«Jesus saiu com os seus discípulos».
Foi na escola de Jesus que os discípulos viveram com intimidade, e é esta que faz de nós homens servidores da Palavra. Estar nesta escola leva-nos a acompanhá-l’O à hora derradeira da sua Paixão, pois só aí aprendemos de facto a medida do amor, só aí compreendemos o quanto Deus quis que a humanidade se salvasse, e que preço tinha esta salvação.
Jesus toma o melhor método de ensino que se poderia pedir: «assim como eu fiz, façais vós também» (Jo 13, 15). Mais que ensinar a palavra, é exemplificar as ações, e nisso, não só, mas sobretudo, Jesus foi espetacular. Só mesmo o Filho de Deus para nos mostrar como se ama, e que medida deve ter esse amor.
Ao abraçar a vida de seguir Jesus, e num tempo em que a Igreja é tão abalroada, acho que não há conclusões ou soluções muito difíceis para atenuar este problema: «como eu fiz, façais vós também». Falta-nos muito para ser como Jesus, e não é só cantar a música muito bonita e com uma forte mensagem do P. Zézinho, bater com a mão no peito, fechar os olhos e pedir que isto mude (nada contra quem o faz). Na minha simples visão de um jovem que ama a Igreja e sonha para ela grandes frutos, enquanto sinal de Deus no mundo, a via do testemunho é a grande catapulta para se começar a mudar uma visão eclesial estagnada e que em pouco tempo vai se extinguir completamente. Novos desafios pastorais visionam-se num futuro não muito longínquo, e são mais que reflexões e auscultações que se pedem. É mudança. Mudança de mentalidades, mudança de preconceitos, mudança de atitudes e sobretudo uma mudança de vida. Pode parecer que penso um bocadinho de mais ou “out of the box”, mas às vezes, e com a certa destreza, faz muito bem pensar e observar outras realidades, outras perspetivas e pontos de vista.
«Os encontros com Jesus são sempre transformadores e transformantes». Quando ouvia esta frase, noutra idade, parecia-me estranho e um bocado redundante o transformador e transformante. Mas faz todo o sentido: ninguém fica igual ou indiferente ao se encontrar com Jesus. Se formos ao farol da nossa vida, a Palavra de Deus, praticamente todos aqueles que se encontraram com Ele não ficaram da mesma maneira, mudaram a sua vida, seguiram-n’O.
O que nos falta para isso, se já O encontrámos e até queremos fazer Dele o centro da nossa vida?
Quando descobrir … escrevo! Mas para já, continuar no caminho Dele.
Rui Pedro Soares, 6º ano