Piedade Lalanda foi uma das oradores do último dia das V Jornadas de Teologia promovidas pelo Seminário de Angra e afirmou que muitos laços sociais foram enfraquecidos com a pandemia, e agora com a guerra, a Igreja deve saber encontrar as estratégias para lhes dar um novo sentido.
Acolhimento e coração, são os dois ingredientes-chave da nova pastoral. Seja no âmbito social seja no âmbito familiar, diz a socióloga.
Apartir de uma análise a dados estatísticos de 2020, relacionados com a taxa de nupcialidade e de fecundidade, a investigadora reconhece que a pandemia teve um impacto negativo nas escolhas dos Açorianos.
Embora ainda se digam esmagadoramente católicos (em 2020 90% dos açorianos diziam-se católicos), a celebração do matrimónio está a decrescer.
“Em 2020, apenas 8,2% dos casamentos nos Açores são católicos, e tem-se registado uma diminuição desde 1995. Entre 2019 e 2020 houve um decréscimo de 28,2% para 8,2%” referiu
“Numa região que se diz católica, o matrimónio começa a ter muito pouca expressão” avançou Piedade Lalanda.
A investigadora alertou também para o número de divórcios que “não para de crescer”, isto é, além da diminuição da taxa de nupcialidade católica o número de divórcios tem aumentado e “em 2020 houve mais divórcios que casamentos”.
Diante desta realidade, interpela a socióloga, “qual é o posicionamento da Igreja; como estamos a olhar para esta realidade e o que é que podemos fazer para evitar a quebra destes laços”.
“Os açorianos casam-se cada vez menos e, quando o fazem, casam-se cada vez menos pela Igreja e, muitas vezes, fazem-no por causa da boda” refere lembrando que tal como nos laços sociais que dão segurança ou sentido de pertença também na vivência religiosa estes laços podem ser desenvolvidos de uma forma mais esclarecida e inculturada ou de uma forma mais ritualista.
“Como é que a Igreja prepara para o matrimónio quem, por exemplo, já está casado no civil? Hoje, uma parte significativa dos matrimónios realizados são pessoas que já têm um vinculo.. Como é que a Igreja olha para eles. E no caso dos divórcios: como é que a Igreja olha para os recasados”.
“É este sentido pastoral que deve ser refletido”, conclui.
Durante a intervenção nas Jornadas de Teologia, Piedade Lalanda falou igualmente da taxa de natalidade, que “acompanha” a tendência de diminuição nacional. A socióloga enfatizou, sobretudo, a natureza do vínculo filial.
“51,8% das crianças que nasceram no arquipélago em 2020 nascem fora do matrimónio. Se olharmos para os batismos na diocese 2006 e 2029, verificamos uma redução de 22,5% ou seja, nascem cada vez menos crianças, há uma maioria que nasce fora do contexto do casamento e são cada vez menos batizados”.
“Faço a mesma questão: como é que a Igreja acolhe estas famílias, estas crianças e que respostas lhes dá para que elas continuem a sentir que pertencem a esta comunidade cristã?”.
“Perante a transformação de laços sociais que resposta pode dar a Igreja? Alheia-se, integra, ou exclui?”
A pandemia, e agora a guerra, mostram-nos a força da solidariedade e contrariam a globalização da indiferença” e “a igreja, como comunidade, tem por missão dar sentido a essa solidariedade enquanto serviço ao outro, como uma ação pastoral…”.
“A renovação da igreja católica tem que se fazer para evitar que os laços se rompam; são os laços sociais que se atam e reatam em diálogo com o mundo”, conclui lembrando que “a fé ajuda a construir laços individuais e familiares” e , por isso “a igreja deve estar atenta a estes sinais”.
Durante estas jornadas houve ainda tempo para se falar de saúde mental, um problema que afectou sobretudo jovens e mulheres, onde houve um agravamento das depressões na ordem dos 25%.
As Jornadas de Teologia foram organizadas pelo Seminário Episcopal de Angra e este ano procuraram refletir sobre os desafios à Igreja no pós-pandemia.