Em 1897 Teresa do Menino Jesus (ou Teresinha), ao expirar no seu leito de morte, prometeu que Deus haveria de lhe conceder todas as vontades no Céu, porque as não tinha realizado na Terra. Como tal, e porque Teresa aspirava ao Amor e ao Bem, a «passar o Céu, a fazer o bem sobre a Terra», a sua intercessão só poderia completar-se, quando alcançasse a presença de Deus, Aquele que lhe concederia todos os favores. Estes viriam até à Terra, até nós, até aos mortais, como pétalas de rosas, assim a religiosa prometera: «Depois da minha morte, farei cair do Céu uma chuva de rosas».
Dado que as manifestações da Graça divina, intermediada pelos seus Santos, não são sempre espetáculos ou teofanias, poderia a fé na intercessão de Teresa vacilar, como com tantos outros Santos que não fizeram milagres extravagantes. Todavia, Deus agiu, age, e agirá continuamente na nossa história. As rosas de Teresa são auxílios, curas, mudanças de vida, tudo aquilo que lhe pedimos com esperança de receber, como graças, no tempo oportuno, no Tempo de Deus. O Tempo de Deus não é o tempo dos Homens. Curiosamente o primeiro milagre de Teresa do Menino Jesus, em 1906, foi a cura de um seminarista com tuberculose, a mesma doença que a vitimou. Esta foi a sua primeira rosa atirada do Céu para o mundo, e se as pudéssemos contar, e apanhar, que bonito e colorido jardim florido poderíamos contemplar, um jardim cultivado e abençoado por uma religiosa de Lisieux. Que bonita imagem, e podemos imaginar, um convento com os seus claustros e jardins cobertos das mais belas roseiras e rosas que a natureza pode produzir, deambulando neles uma religiosa carmelita, facilmente conhecida, Teresa, a Doutora da Igreja a podar as rosas da nossa vida. Quão pura é a fé dos crentes, que hoje são ridicularizados pela sociedade, pela família, pelos amigos por causa da sua fé, da sua devoção, da sua piedade. Tudo na sua cota, peso e medida. Diz o povo, «religião com descrição», o que todavia não coaduna com a missão evangélica de Jesus e dos cristãos, mas que proporciona um equilíbrio e bem-estar social benéfico para todos.
Parece estranho, exagerado e piedoso, até mesmo sem sentido, tudo isto que até aqui referi. A nossa vida espiritual deve ser um misto entre receber as rosas que nos caem do Céu, e retribui-las de novo num contínuo ciclo devocional, numa respiração da alma fiel que se liga ao Criador e aos intercessores. Muitas vezes, as nossas vidas são apenas o caule espinhoso da roseira, são apenas o duro peregrinar por um mundo em que os homens esquecem-se de Deus, pior ainda, esquecem-se dos outros e de si. Teresa apenas se esqueceu de si própria, viveu para Deus e para os seus irmãos, assim é a missão dos cristãos que constroem no mundo o Reino. Por isso acredito que a chuva de rosas que Teresa prometera, seria apenas de pétalas, porque no Céu não há dor, sofrimento, angústia ou preocupação. Na Terra sofremos os espinhos para merecermos do Céu as pétalas perfumadas de Amor.
Até aqui, toda esta alusão à botânica e à espiritualidade, tem um tanto ao quanto de interessante e reconfortante. O Homem procura continuamente algo que o complete, que o preencha, no entanto, muitas vezes Deus não é uma opção, mas já referi que o nosso tempo não equivale, nem coincide como queremos com o Tempo de Deus. Quando Deus não nos responde, pegamos na trouxa e viramos-Lhe as costas. Teresa esperou. Teresa não desistiu. Os Santos souberam esperar o Tempo de Deus, pois esperar em Deus, é a forma mais sublime de acreditar na Sua omnipotência, de acreditar que os Seus planos são sábios, que quando Ele quer acontece. Já sabemos que Ele não se revela em espetáculos e aparatos, apoteoses grandiosas que poderia facilmente realizar, mas não, prefere o Nosso Deus agir no segredo e no íntimo da vida dos homens. O próprio Jesus, no capítulo 4 de São João, após a cura do filho do funcionário real, lança em cara à multidão: «Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais» (Jo 4,48).
O Papa Francisco alertou-nos na sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate para a santidade do nosso dia-a-dia, para os Santos da porta ao lado, para aquela santidade anónima aos olhos dos homens, mas agradável ao coração de Deus que vê o que está oculto e recompensa em justa medida. No seu tempo, Teresa do Menino Jesus foi uma Santa da porta ao lado, talvez da cela ao lado se pensarmos no contexto monacal carmelita (vida que viveu desde os 14 anos), e nesta santidade quotidiana, acreditou na ação divina para a sua vida e para a dos seus irmãos. É sem dúvida um modelo hoje para nós, para nos abrirmos à santidade nas pequeninas coisas do dia-a-dia. Não é necessária a canonização oficial da Igreja para que os santos realizem maravilhas, mas sim participarem no amor de Deus, de se assumirem como instrumentos nas Suas mãos e de cumprir a Sua vontade. Provavelmente, Teresa não quisera, nem sonhara com a sua canonização mas isso não a impediria de interceder por nós, assim era o seu desejo, dizia: «Não vou ficar ociosa no céu a olhar a face de Deus, mas ficarei olhando para a terra para ajudar quem me procura».
Recordo esta mulher no mês de outubro, no mês das missões, das quais é padroeira.
Teresa, a menina a quem a Imaculada Conceição sorriu, a religiosa carmelita, a Santa, a Doutora da Igreja, a do Menino Jesus, é um modelo para a santidade nas pequenas coisas, para aquelas que o Senhor nos pede para sermos fiéis, pois também dessas Ele vai nos pedir contas. Teresa não guardou os seus talentos, não se deixou abalar pelas suas máculas. Cultiva as mais preciosas e belas rosas que Deus lhe providenciou para semear, e faz delas uma chuva de graças para a humanidade, uma chuva de rosas para todos os que lhe recorrem.
«Por cada um destas rosas
Jesus, eu sei que Tu derramas
As Tuas graças preciosas
Que os corações põem em chamas;
Ó sacerdotes e pastores,
Simples fiéis ou missionários
Lembrai-vos ao ver estas flores
Que ao Amor sois necessários.»
– St. Teresa do Menino Jesus
Rui Soares, 5.º ano