Chegámos a mais uma Quaresma. Não a mais uma, mas sim à nossa Quaresma. A Quaresma é, por excelência, um tempo de penitência, de oração e de jejum, resumidamente, um tempo de conversão. E como já é norma do Seminário, os seminaristas vão em retiro no início deste tempo. Este ano não foi exceção. Claro que se teve que moldar o retiro às circunstâncias atuais que esta pandemia nos trouxe. Por isso, os seminaristas mais novos foram em retiro, separados dos mais velhos, para a Paróquia das Fontinhas, para realizarem lá os seus exercícios, no Centro Paroquial e Social das Fontinhas. O que consta aqui de relevante, e o que me leva a escrever este acontecimento, passou-se durante este retiro.
Era sexta-feira, dia 19 de fevereiro de 2021, um dia chuvoso, ventoso, frio, escuro e húmido. Assim estava o tempo nas Fontinhas. Como é normal e correto, durante este tempo da Quaresma, os cristãos católicos realizam o exercício da Via Sacra. Por isso, nós, seminaristas em retiro com o senhor reitor, fizemos a Via Sacra depois do almoço.
Uma Via Sacra com uns textos simples e humildes, acompanhada com uma cruz que se encontrava na sacristia da Igreja Paroquial das Fontinhas; seis pessoas à volta dos quadros das estações que se encontram nas paredes da igreja. Tudo corria como normal e sabido. Mas algo aconteceu que nos chamou a atenção, e falo por mim, pois ainda mais atenção me chamou. Ao chegarmos à “XII Estação – Jesus morre na Cruz”, como é normal, colocámo-nos ao redor e olhámos para o quadro da estação na parede. Na demora de começarmos a meditar esta mesma estação, o sino da igreja toca. Eram três horas da tarde, a mesma hora em que Jesus morreu na Cruz. O reitor repara nesse pormenor e chama a atenção. Ficámos todos emocionados. Tanta coincidência, como foi possível tal coincidência acontecer? Ajoelhamo-nos, mas ficámos de joelhos a meditar neste acontecimento, não é exagero dizer que os olhos brilharam de emoção e que um arrepio passou pelas costas.
Mas houve mais um pormenor que saltou à vista… nesse mesmo dia, tão chuvoso, sombrio e nublado, ao irmos para a rua no fim da Via Sacra, o céu encontrava-se com boas abertas, o sol pela primeira vez nesse dia passou pelas nuvens; pela primeira vez nesse dia, houve raios de sol nas Fontinhas.
Na ida para o local do retiro, o senhor reitor partilhou com os que estavam no carro a sua admiração pelo acontecimento sucedido durante a Via Sacra. E, numa das suas frases, disse que “para um cristão nada é por acaso”. Quando o reitor me diz esta conversa, mais emocionado fiquei, pois tinha sido nessa mesma estação que eu tinha ficado com a Cruz, ou seja, a Cruz é-me passada para as mãos quando o sino toca. Se “para um cristão nada é por acaso”, isto não foi por acaso para mim. Posso interpretar isso de vários modos, mas o que me veio logo à mente foi: “Gonçalo, toma a tua Cruz e segue-me!” Foi algo que me tocou. Foi algo de incrível, Jesus estava connosco, Jesus estava connosco neste nosso retiro. De facto, o retiro foi muito proveitoso. E, para concluir, completo a frase do reitor dizendo que “nada é por acaso, porque tudo é por providência divina”.
Tenhamos atenção a todos os sinais que o Senhor nos dá, especialmente nesta Quaresma, tempo de sinais e de tentações. Saibamos viver esta Quaresma intensamente, para que possamos tirar todos os frutos possíveis dela, e assim poder viver mais autenticamente a Páscoa do Senhor.
Gonçalo Furtado
Ano Propedêutico