“…do teu valentim!”
O mês de fevereiro é, particularmente, um mês frio e meteriologicamente inseguro: ora está sol e saímos sem guarda-chuva, ora somos apanhados por uma repentina chuvada.
Após uma temporada de longos dias de escuro, é o mês onde se nota já uma diferença nos dias, como diz o nosso sábio povo “Janeiro fora, cresce uma hora”.
É um mês de espectativas e de fazer planos para o resto do ano, marcar férias, começar a organizar uma viagem… Mas também é o mês em que os agricultores começam a preparar as terras para serem semeadas. Fevereiro é, sem dúvida, um mês de preparações.
Mas, humanamente, não há preparação maior do que aquela que permite gerar uma família. Fevereiro é também o mês dos namorados, devido ao célebre dia de São Valentim, outrora celebrado, liturgicamente, a 14 deste mês1.
O que tem a ver este santo com os namorados e apaixonados?
Segundo a história, o imperador Cláudio II, com ambição de ter um forte exército, proibiu a realização de casamentos. Este acreditava que, se os jovens não tivessem namorada nem fossem casados, alinhavam com mais genica às guerras, uma vez que eram livres de qualquer compromisso amoroso.
E como em todas as histórias há sempre alguém que acredita e é movido pelo amor, há um bispo que continua a preparar os noivos e a celebrar casamentos.
No entanto, por acreditar no amor, é preso e por ser cristão, é condenado à morte. Mas nem as grades da prisão, nem a sentença de morte a que o bispo foi sujeito o impediram de continuar a acreditar que há sempre uma palavra a dizer, quando se trata de amor.
Segundo consta, um militar prisional queria escrever uma carta [secreta] à sua amada, mas como não sabia escrever, pediu ajuda ao bispo. O bispo assim o fez e, para salvaguardar o nome do militar, para que não fosse descoberto e punido, o bispo colocou a seguinte assinatura: “do teu valentim”, que é o mesmo que dizer, do teu valente, do teu guerreiro… daquele que te ama.
O amor é criativo e quem ama reconhece sempre a fonte, sem que seja necesário uma assinatura!
O bispo, a quem se deu o nome de Valentim, devido à assinatura da carta, foi decapidado a 14 de fevereiro, do ano 270.
Reportando para os nossos dias, parece que há uma espécie de um espírito de Cláudio II, que se traduz no medo do compromisso amoroso para a vida. Sem dúvida, o individualismo e a imaturidade pseudo-voluntária são as causas para que haja uma crise no amor, que se estende desde o namoro, ao casamento e aos filhos.
Num retiro de preparação para o crisma, um jovem partilhou com o grupo “eu não quero namorar. O que está na moda é curtir e pronto”. A palavra “namoro”, pelos mais jovens, está a ser trocada por “curtir” ou “a gente está andado”. E isto reverte-se na mentalidade e na vida concreta da sociedade.
O namoro é a base do casal. E como período de descoberta e conhecimento mútuos, deve perdurar toda a vida, mesmo depois do casamento.
Em Julho passado, fiz voluntariado em Fátima, na parte do acolhimento. Junto à Capelinha das Aparições, fui abordado por um casal de idosos, casados há 62 anos. Fizeram, de autocarro, uma viagem de 225km, de propósito, para oferecerem a Nossa Senhora as alianças das bodas de prata e de ouro. Durante algum tempo, conversamos e perguntei, em jeito de brincadeira, qual era o segredo para um casamento tão longo. E o senhor respondeu-me, muito seriamente, “começamos a namorar e, desde aí, nunca deixamos de namorar”. Que bonito…
Pode-se cair no erro em se afirmar que a Igreja só dá atenção ao casamento, pelo facto de ser sacramento. Mas não! A Igreja também tem diretrizes para os casais de namorados. A própria Sagrada Escritura também nos ensina como viver o período do namoro. A palavra namoro não está na Bíblia, mas nela encontramos vários testemunhos de pessoas que se relacionaram antes do casamento, como por exemplo, o namoro de Maria e José, pais de Jesus. “Maria estava desposada com José”. (Mateus 1, 18)
Na cultura judaica, o acto de “desposar”, comparado ao que actualmente chamamos “pedir a mão” ou “pedir em namoro”, era algo que as famílias judaicas levavam com muita, mas muita seriedade. Tratava-se de um acordo de união, em que membros de duas famílias davam início a uma nova família, sendo este acto mais importante, juridicamente, que o próprio casamento, que seria realizado, pelo menos, um ano depois.
E este facto é muito bonito e interessante: o namoro é já o início da família que os dois, já considerados esposos, têm a responsabilidade de fortalecer, ainda mesmo não vivendo juntos. É já uma atitude de mútua doação e preparação para a vida conjugal. Não se trata apenas de amor, mas sim, e fundamentalmente, de consentimento.
Para este dia de São Valentim, ou em outro dia que seja possível, lanço o desafio aos casais: namorados e casados, a pegarem na Bíblia e lerem o poema do Livro do Génesis, capítulo 2, versículos 18 a 24 (caso não tenham Bíblia, o texto vai no fim). Depois de feita a leitura, façam uma partilha e, no fim, com um abraço, agradeçam juntos, ao Senhor, o dom do amor e da vossa união. E com Maria e São José, peçam, para Vós, a bênção e a proteção de Deus.
Façam-se felizes, hoje e sempre!
Jorge P Sousa
5º Ano
Gn 2, 18-24
18O SENHOR Deus disse: «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele.» 19Então, o SENHOR Deus, após ter formado da terra todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, conduziu-os até junto do homem, a fim de verificar como ele os chamaria, para que todos os seres vivos fossem conhecidos pelos nomes que o homem lhes desse. 20O homem designou com nomes todos os animais domésticos, todas as aves dos céus e todos os animais ferozes; contudo, não encontrou auxiliar semelhante a ele.
21Então, o SENHOR Deus fez cair sobre o homem um sono profundo; e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma das suas costelas, cujo lugar preencheu de carne. 22Da costela que retirara do homem, o SENHOR Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem.
23Então, o homem exclamou:
«Esta é, realmente,
osso dos meus ossos
e carne da minha carne.
Chamar-se-á mulher,
visto ter sido tirada do homem!»
24Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne.
1 Desde 1969, devido às poucas certezas da vida e comprovações histórias a cerca de São Valentim, o dia 14 de fevereiro deixou de ser, oficialmente, celebrado pela Igreja Católica.