Retiro dos acólitos foi o ponto alto das celebrações
A Ouvidoria das Flores acolheu os seminaristas Jorge Sousa, de 34 anos, natural da freguesia de Ponta Garça e Humberto Farias, de 22 anos, natural do Pilar da Bretanha, ambos alunos do 3º ano do sexénio (1º ano de Teologia).
Durante alguns dias, estiveram em contacto com os alunos de Educação Moral e Religiosa Católica das escolas básicas e integradas de Santa Cruz e Lajes, assim como nas catequeses.
“O contacto com os mais novos foi a nossa prioridade. Foi a eles, de modo particular, que pretendemos chegar e, através da nossa história de vida, do nosso testemunho vocacional, mostrar-lhes que já fomos crianças e jovens como eles, e é da nossa vida concreta, do meio das nossas famílias e das comunidades paroquiais que Jesus nos chama a uma descoberta de nós próprios e percebermos que Jesus precisa de nós para O servirmos nos outros” adianta uma nota dos dois seminaristas, enviada ao Sítio Igreja Açores.
“Jesus não chama jovens extraordinários nem extraterrestres. Chama jovens disponíveis a uma vida radical, de total entrega, dispostos a darem continuidade ao Seu projeto de Amor”, prosseguem os seminaristas.
Durante um dia e meio, sob o tema da Semana dos Seminários “Fazei o que Eles vos disser” (João 2, 5), os acólitos da ilha estiveram em retiro espiritual, onde “vingou a oração, o desafio do silêncio e da escuta”.
“Consideramos esta oportunidade importantíssima porque é dos acólitos que nascem muitas vocações. Aliás, o acolitado é um ninho de muitas vocações porque, a partir desta disponibilidade de servir o altar, pode gerar compromissos como catequistas, leitores, cantores litúrgicos… de futuros leigos empenhados nos movimentos da paróquia”, referem com esperança que “daqui nasçam outras vocações”.
Humberto Frias lembra que foi, justamente, como acólito que nasceu a ligação à igreja. O jovem seminarista, natural do Pilar da Bretanha conta que no final do 12º ano estava indeciso entre seguir um curso superior na área da saúde- medicina ou enfermagem- ou o Seminário e acabou por fazer esta opção.
“Sinto que foi pelo facto de ser acólito que tomei esta decisão” refere o jovem micaelense.
Já Jorge Sousa recorda que em criança cantava no grupo coral, por vezes, não havia ninguém para “ajudar à missa” e ia “lá para cima” ajudar o pároco.
“ Uma vez ou outra servia de acólito, mas por muito pouco tempo. Tão pouco, que nunca me considerei um acólito comprometido. Sempre estive mais ligado ao grupo coral, à catequese, ao grupo de jovens Sementes d’Alegria, aos romeiros, aos grupos de oração, organizados pelas Servas de Nossa Senhora de Fátima, que durante mais de duas décadas missionaram (n)a minha paróquia…” refere o jovem vila-franquense.
“ Indubitavelmente, foi o amor à oração que herdei da minha avó materna e a minha vivência cristã desde criança, nos vários movimentos, que me formaram e que, embora, talvez, tardiamente, me fizeram, aos 31 anos de idade, deixar a vida como colaborador da Diocese de Angra, como professor de Educação Moral e Religiosa Católica, e vir para o seminário” disse ainda sublinhando que nãoé um caminho fácil.
“ Humanamente é um risco. Mas, por mais que me sentisse feliz, mas não realizado, por mais que eu amasse quem não concordara com a minha decisão, eu não podia ficar indiferente ao que sentia. O discernimento vocacional é algo desconfortante. Gera um frenesim interior que só passa quando nos predispomos à busca de sentido para a nossa vida”, conclui o seminarista que é atualmente o aluno mais velho do Seminário em formação com vista ao sacerdócio.
Neste retiro, todos os acólitos recordaram e partilharam a alegria que viveram nos passados dias 1 e 2 de julho, aquando da ordenação sacerdotal e missa nova do Padre Jacob Vasconcelos, florentino de Ponta Delgada.
O retiro de acólitos terminou com a Vigília pelos Seminários na Matriz de Nossa Senhora da Conceição e contou com a presença dos familiares dos acólitos e dos paroquianos em geral.
Os seminaristas estiveram ainda nas eucaristias celebradas no domingo em várias paróquias da ilha das Flores onde pediram oração pelas vocações.
“Os seminaristas são o bater deste Grande Coração- Seminário-, mas o oxigénio deste coração é a oração de todos aqueles que, na generosidade da sua boa vontade, rezam por nós” referem os seminaristas Humberto Farias e Jorge Sousa.
Na nota enviada ao Sítio Igreja Açores, os seminaristas que estiveram nas Flores abordam ainda o problema da crise de vocações sacerdotais.
“É um facto! Mas mais do que uma crise de vocações sacerdotais há uma crise generalizada de respostas, devido ao medo do compromisso. É preciso rezar por todas as vocações: as matrimoniais e familiares, berço de valores, de onde urgem os alicerces da cidadania e os pilares da vida cristã; as vocações laicais, de fiéis disponíveis e magnânimos para o serviço e colaboração na vida da paróquia: catequese, leitores, grupo coral, equipas de limpeza e ornamentação, visitadores dos enfermos, comissões de festa”, afirmam agradecendo generalizadamente à equipa sacerdotal que serve nas Flores e aos leigos bem como às instituições que os acolheram.
Na semana dos Seminários, só os três novos alunos do ano zero não saíram da instituição. Os restantes 16 percorreram várias ouvidorias. Além das Flores estiveram em Ponta Delgada, Povoação, Lagoa, Vila Franca do Campo, Faial, Pico e Graciosa.
In Igreja Açores