Jovem lagoense parte à procura do seu sonho

André Furtado, de 19 anos, partiu para uma aventura religiosa, de sete anos, no seminário de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira.

Ligado à Igreja desde os seus três anos, o adolescente diz ter sido a sua avó quem lhe despertou esse desejo de um dia ser padre.

André Furtado sempre muito ligado e integrado na sociedade, foi Presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Lagoa, durante dois anos, Diretor no Clube Operário Desportivo e em 2016 tornou-se Secretário Adjunto do mesmo clube.

“Levo comigo alguns receios, como as saudades que irei sentir da minha família, amigos e também da minha Cidade de Lagoa, mas “se não nos aventurarmos nunca saberemos”.

ENTREVISTA

O que despertou em ti esta devoção?
Foi a minha avó, porque ela ia à missa e eu era o único neto que ela levava à missa. Gostava sempre de estar junto a minha avó. Penso que ela se sente feliz com a minha decisão e eu estou a fazer isso por nós.

Com o passar dos anos, com a passagem da fase de criança a adolescentes, podias ter-te afastado desse caminho porque continuas-te sempre ligado à Igreja?
Porque gostava daquilo que estava a fazer, sentia-me útil e bem no que fazia.

Fizeste parte de várias Instituições, quais e porquê?
Fui Presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Lagoa, durante dois anos, e fui diretor do Clube Operário Desportivo também durante dois anos e em 2016 como Secretário Adjunto. Fiz parte dessas Instituições para sentir-me introduzido, ligado e interiorizado na sociedade.

Também fizeste voluntariado, nomeadamente no Lions Clube de Lagoa.
Ajudar o próximo, nasceu dentro de mim, este pensamento de ajudar uns aos outros porque nós precisamos uns dos outros, podemos ser tudo, mas se não tivermos o apoio de um amigo ou família, com eles sentiremos mais confiantes. A felicidade pode brotar de um sorriso, ou de uma lagrima, ou até um simples obrigado, é uma chave de ouro.

Foste Romeiro, mas já não o és, porquê?
Fui Romeiro durante quatro anos, para caminhar, rezar e descobrir muita coisa. Mas não me sinto já realizado para fazer romarias, uma coisa é ser romeiro de fé e outra coisa é ir de romeiro e fazer turismo. Uma coisa é estar retirado do luxo, da riqueza e pedir, rezar a Deus. Não para fazer turismo, faltar à escola, faltar ao trabalho ou para as pessoas terem pena. Acho que o ser Romeiro foi banalizado com muita coisa misturada.

Decidi deixar de fazer a romaria de oito dias e fazer romaria de toda a vida. A romaria é todo o ano, são os 365 dias do ano. Estar sempre ligado com os Irmãos, ajudar na Igreja, ajudar o outro no momento difícil da vida e não fazer-se de grande do que se faz. O que conta é aquela pessoa que faz as coisas e retém-se calada, sem segundos pensamentos ou segundos objetivos.

Vais para o Seminário de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, qual o objetivo dessa escolha?
O objetivo do meu seminário é descobrir verdadeiramente se quero ser padre ou não. Sinto que quero chegar ao fim, mas quero descobrir mais algo que ainda não sei. Estar mais à vontade nestas situações, se é realmente isto que eu quero. Se o pensamento que tenho dentro de mim é este ou não, mas preciso de afirmações. Ver realmente a minha vocação. Nem todos podem ser padres, nem todos podem ter filhos, querer estudar e por fim chegar àquilo que sempre quis ser, padre, desde a adolescência. Se não nos aventurarmos nunca saberemos, quero realmente descobrir o que é ser padre e estar na comunidade. Se chegar ao fim, ficarei feliz.

Caso não sintas que essa foi a opção ideal, qual seria a outra?
Outra opção pela qual sinto uma chama pequenina, será de seguir Comunicação Social. O Seminário será durante sete anos, sendo o primeiro ano, ano zero para descobrir a vida do seminário, depois dois anos de filosofia e quatro anos de teologia.

Vais sentir saudades da Cidade de Lagoa, da família e amigos?
Desde cedo começou a apertar a saudade, não é uma despedida, é só um até já. Como digo apenas umas milhas nos separam, mas serão sete anos de distância ainda razoável, fora da família, dos amigos, das festas e noitadas, o que deixará um pouco de saudade. Mas o que importa é que as amizades se unam à distância e sentir-me em casa fora de casa.

Sempre tiveste o apoio da tua família e amigos na tua decisão?
A família e os amigos são duas peças fundamentais que apoiaram esta decisão final, seguir esta missão e vocação. Todos têm uma missão nesta sociedade, todos têm a sua função para se realizar.

Porque decidiste optar por não ir para a Universidade, mas sim para o Seminário?
Este pensamento do seminário vem desde o inicio, estudar numa Universidade ou ir para o Seminário, são coisas que se podem colocar na mesma balança, no mesmo peso. A Universidade forma para os cursos destinados e no Seminário vê-se formar homens para o sacerdote ou outras profissões, como professores, direito ou comunicação.

Optei pelo Seminário porque sinto-me em casa, é um meio que já conheço e estou bem, sentimo-nos em família por ser um meio mais pequeno.

Na Diocese de Angra, os Açores estão bem servidos, apesar do curso ainda não ser reconhecido a nível nacional, mas caminham para ser reconhecido como o da Universidade Católica de lisboa.

Foi uma decisão muito refletida?
Parei para pensar duas vezes, o que é que realmente quero para a minha vida, decidi pensar, parar e começar a meter uma ideia fixa na minha cabeça. Houve um momento neste verão que me retirei de tudo, fui arejar e pensar o que realmente quero fazer, porque temos que tomar decisões, chegou a altura de decidir e não andar a brincar com o meu futuro. Se chegar ao fim muito bem, se não chegar ao fim também muito bem porque fui descobrir o que quero ser. Todos não podem ser padres, casados, mas todos podem ser felizes à sua madeira.

O que eu penso agora é chegar ao fim, acabar o meu curso, ter a minha profissão e ficar empregado. Porque a nível de emprego as coisas ainda estão precárias, temos que lutar, trabalhar, temos que revirar a nossa vida.

Consideras-te um adolescente igual aos outros?
Quem se mete nas coisas é criticado ou pelo bem ou pelo mal, penso diferente de alguns jovens, mas nunca deixei de fazer aquilo que os jovens fazem hoje em dia. Experimento tudo, faço tudo e nunca deixei de ser diferente. Existem sítios onde devemos manter a postura, mas há momentos para tudo e nunca devemos deixar de ser nós próprios.

Optar pela vida de Padre, é optar por não casar, nem ter filhos. É algo que não te incomoda?
Não me mete confusão, penso que não tenho esta função de construir família, sinto que a minha vida será de servir os outros. Quem não tem família tem sempre família, encontramos a nossa família nos amigos e as vezes ter amigos é melhor do que ter os nossos próprios filhos. Os amigos são sempre o nosso refugio, com quem podemos desabafar ou falar.

Como lagoense, o que pensas da Cidade de Lagoa?
A cidade de Lagoa está a crescer, a ganhar uma relevância a nível Açores. Nós não podemos ter tudo, a Lagoa está a começar a ganhar um ritmo e a crescer, será no futuro uma cidade virada para o turismo e mar. Penso que vai crescer e ser pioneira em muitos objetivos, vivemos bem e muito bem na Lagoa. É uma cidade jovem e a ideia e a forma em que a Lagoa se vai desenvolver mais e melhor é nos jovens. A solução está nos jovens, apostar nos jovens, ouvir os jovens. Lagoa está a começar a apostar na juventude.

É necessário que os jovens se sintam úteis na vida da sociedade porque estarmos interiorizados na sociedade também é descobrir o nosso futuro. Os jovens não se interessam pelas coisas. Temos que enfrentar tudo e mais alguma coisa com pés e cabeça, só assim iremos crescer e aprender como estar em sociedade e viver em sociedade.

O que vai ser da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Lagoa sem o André?
Sinto que há pessoas melhor do que eu para assumir estas funções e continuar, seria uma grande alegria e sentir-me-ia muito feliz continuar a ouvir falar na Associação de Estudantes de Lagoa. As pessoas começaram a olhar para a Escola e Associação de uma forma diferente, começaram a pensar “aqueles jovens não estão a brincar”, temos que caminhar para a frente e nunca parar, mas se não caminhar vou ficar desiludido e triste.

Para terminar, queres deixar alguma mensagem em especial?
Garanto que não deixarei de ser o André que sou hoje, temos que ser o que somos realmente, continuarei a ser feliz, amigo dos amigos, sempre com um sorriso, boa disposição, brincalhão e mais divertido, nunca deixarei de ser o André e apoiar todos os amigos e família porque eles irão comigo nas minhas malas para o seminário, aprendemos muito juntos, vivemos muito e somos felizes.

In Diário da Lagoa

4 de Outubro de 2016

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