Acolher o Reino de Deus
“Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32)
INTRODUÇÃO
Nenhuma interpretação pode esgotar definitivamente o sentido de uma parábola. Eis porque as parábolas são uma fonte privilegiada para compreender ao mesmo tempo a missão histórica de Jesus, as interrogações que levantou ontem e levanta ainda hoje.
E se os evangelistas fazem por vezes a sua interpretação em função da situação histórica da sua própria comunidade, as parábolas permanecem abertas, inesgotáveis. Assim, à semelhança das primeiras comunidades cristãs, cada geração de crentes é convidada a dar a sua resposta própria, a sua própria interpretação das parábolas a fim de poder melhor compreendê-las e vivê-las na situação concreta da sua época. Sabendo todavia que estas interpretações legítimas, mais ou menos felizes, não devem dispensar-nos de nos esforçar em manter o seu alcance original.
Há de facto, para cada parábola, três níveis de leitura possíveis e indissociáveis: o do sentido que Jesus podia dar-lhe no contexto histórico da sua pregação, o da interpretação que os evangelistas deram dela e o das inesgotáveis aplicações que nós podemos ainda hoje tirar dela.
A fim de não reduzir a riqueza das parábolas, importa não esquecer nem confundir os diferentes níveis de interpretação. Importa também recordar que não se pode ler e interpretar uma parábola sem a ressituar no conjunto das outras parábolas, dos Evangelhos e de toda a própria Revelação.
Aí está a razão pela qual nos é necessário sempre ler, perscrutar as parábolas com todos os utensílios que a exegese moderna nos oferece, com as interrogações concretas do nosso tempo e sobretudo ruminá-las com o coração, rezá-las no Espírito, o único que assegura ao mesmo tempo a coerência e os desenvolvimentos da Palavra de Deus.
Aquilo que se propõe a seguir é percorrermos as parábolas que Jesus contou e rezá-las. Para isso, teremos o padre Michel Hubaut como nosso percursor na abordagem orante das parábolas e, que nos oferece a possibilidade de nós próprios as rezarmos e expressarmos o que o Espírito Santo nos inspira a rezar perante uma determinada parábola, onde a vida do mundo fala do humano e do divino.