PARAR

Avançamos cada vez mais depressa para a Páscoa do Senhor e encontramo-nos, praticamente, a meio desta caminhada quaresmal, no IV Domingo da Quaresma, que a Igreja evoca como um dos Domingos da Alegria. É um convite à introspeção e a fazermos um “check-up” deste itinerário quaresmal de 2018.

O que já mudei no meu modo de ser comigo e com os outros até agora, ou o que preciso ainda de melhorar ou extinguir para que esta Quaresma tenha frutos na minha vida? Muitas vezes, caímos na relatividade de um simples ritualismo ou de promessas à boca cheia, que são vãs e incompatíveis com o modelo de Jesus Cristo.

«Perdoai e sereis perdoados. (…) a medida que usardes com os outros será usada também convosco.»

A dureza dos textos bíblicos que escutamos ao longo do Tempo da Quaresma tem a função de penetrar os nossos corações, abrindo-os à luz e à verdade de Deus, as quais devem ser a nossa medida de amor para connosco e para com o próximo. Quantas vezes os nossos corações estão barricados e emparedados de ódio, egoísmo, orgulho, presunção, inveja, vingança e não embebidos no amor, ternura, misericórdia e compaixão. Quantas mais Quaresmas serão necessárias para que os corações de pedra se transformem em corações de carne? Não é este o desejo de Jesus? Esta desconstrução do muro que envolve o nosso ser (incluindo o meu) é embargada pelo comodismo e pela preguiça de realizar o que é bom.

Os exercícios da penitência quaresmal não podem ser apenas um cumprimento da lei, um pouco como os fariseus da época de Jesus quiçá, mas fonte de mudança e conversão por mais pequena que seja a nossa vontade. Quantos jejuns, abstinências, vias-sacras, procissões de passos e outros exercícios de piedade popular ou individual serão precisos realizar para que as nossas ações não ofendam o coração misericordioso de Jesus.

A partir deste IV Domingo da Quaresma (especialmente do V Domingo) a paixão de Jesus vai-se tornando o foco central de toda a liturgia. O Evangelho de João começa agora a relatar os sofrimentos, que o próprio Jesus anuncia a Nicodemos. É pela cruz e pelo seu Sangue que Ele nos redime.

A magnífica passagem do prólogo deste mesmo Evangelho apresenta-nos uma imagem na qual o evangelista nos apresenta que a Luz (Verbo), que brilhou nas trevas, embora estas não a tenham reconhecido. Porventura, esta Luz veio ao mundo e os seus não a reconheceram, e não a receberam. Todavia o evangelista salienta a outra face da moeda, pois àqueles que reconheceram e receberam esta Luz, deu-lhes o poder de se tornarem Seus filhos. E como filhos de Deus que somos (ou por vezes deveríamos ser) é necessário agir como filhos deste mesmo Deus que é justo e reto. Caminhando à sua luz para a Páscoa da vida eterna onde o Homem se realiza plenamente na presença do Deus que dá a vida. Não queiramos comparecer diante de Deus sem o traje nupcial, vestidos do homem velho como nos diz São Paulo, mas vestidos do homem novo que se purifica e converte continuamente na caminhada para a morada celeste.

 

Rui Soares

1º Ano

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